O testemunho de um homem que cumpriu uma sentença de 21 anos na prisão não é sobre a conquista da liberdade de ir e vir, mas a libertação do racismo, um sentimento de ódio que ele nutria contra os iguais de pele diferente.
Otis Hardy foi condenado em 1979 por assalto à mão armada. Quando chegou à cadeia, era alguém que poderia facilmente ser definido como uma pessoa que respirava ódio, principalmente por brancos. Quando já estava na prisão há 15 anos, foi pego promovendo jogos de cartas com apostas em dinheiro, o que é ilegal, e esse episódio mudou sua vida.
O guarda que o flagrou disse a ele que não o puniria se ele aceitasse participar de um culto no refeitório da prisão. Para escapar da punição, ele decidiu que iria, mesmo sendo completamente hostil aos brancos, que eram maioria entre os detentos que frequentavam a celebração evangélica.
De acordo com informações do News Observer, Hardy afirmou que a melhor decisão que tomou foi ir àquele culto, pois foi tocado por Deus ao receber uma oração de dois homens brancos. “Esse encontro mudou minha vida. As pessoas que me abençoaram foram as pessoas que eu odiei a minha vida inteira”, relatou.
Em 1996 ele se tornou o primeiro detento a participar de um estudo bíblico semanal promovido pela Igreja Metodista Unida da Carolina do Norte (EUA). “O relacionamento entre o grupo era lindo. As pessoas eram ótimas. Muitas pessoas entram numa prisão, mas há poucas pessoas com quem você se identifica”, disse Otis Hardy.
Esses dois anos foram de intensa mudança na vida do então preso, que posteriormente, passou a se dedicar à culinária e aprendeu a cozinhar. Entre os anos de 1996 e 2000, Hardy trabalhou como cozinheiro da equipe do governador Jim Hunt (Partido Democrata), e chegou a fazer o bolo de casamento de uma de suas filhas.
No ano 2000, aos 54 anos, ele concluiu sua sentença e foi libertado. Transformado pelo Evangelho, passou a ter uma conduta exemplar e se matriculou na Universidade de St. Augustine, onde se formou em gestão organizacional.
Para contribuir com a sociedade e evitar que outros seguissem seu caminho no passado, trabalhou com entidades que ajudavam crianças em situação de risco e ex-detentos a se reintegraram à sociedade
Otis Hardy tem, atualmente, 71 anos de idade, vive com a esposa em Raleigh, capital da Carolina do Norte. Juntos, são membros da Primeira Igreja Metodista Unida e trabalham no preparo do café da manhã que antecede os cultos dominicais. “Esta igreja realmente foi uma benção para nós”, disse Hardy.
Em casa, Hardy mantém uma pasta de memórias, com muitas fotos e reportagens, seu certificado de liberação da cadeia e um convite que recebeu do ex-presidente George W. Bush (Partido Republicano) para um jantar. “Eu quero que as pessoas saibam que cometi alguns erros ruins na minha vida. Eu quero que as pessoas saibam, porque esse é o meu testemunho”, finalizou.