Um médico que atua na linha de frente do combate às consequências da pandemia de covid-19 falou sobre o trabalho dos profissionais de sua área e disse ter constatado que eles são “instrumentos na mão de Deus”.
A pandemia de covid-19 transformou a rotina e vida de todas as pessoas, mas o impacto dessa situação é devastador quando se trata de médicos, que têm que prestar atendimento aos pacientes e se esforçar para não serem infectados.
Esse temor é compartilhado por Paulo Eduardo Freitas, 50 anos, médico que atua na cidade de Assis, interior de São Paulo, prestando atendimento na Santa Casa e no Hospital Regional da cidade, além de coordenar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA): “Fico muito tempo longe dos meus filhos e tenho muito medo de voltar para a casa e contaminar filhos, mãe, pai é terrível. Triste não ver minha mãe pessoalmente por meses. Deus nos proteja e nos dê força para continuar”, declarou.
Em entrevista ao portal Assis City, Freitas contou que precisa conviver com esse temor e ao mesmo tempo que sua vocação para a medicina o encoraja a ajudar os pacientes que precisam de atendimento.
“Atuar como médico na linha de frente dessa pandemia significa ter medo de se contaminar e passar essa doença para a família. Mas é preciso ter coragem e tentar amenizar o sofrimento das pessoas. É triste ver uma pessoa agonizando por falta de ar e às vezes não ter o que fazer mesmo tentando tudo o que estiver ao seu alcance. Sinto isso em mim e dos meus colegas”, relatou.
O médico, que é casado e tem dois filhos, Felipe com 8 e Isabella com 16 anos, define sua profissão como “um dom dado por Deus para aliviar o sofrimento e a dor do próximo”.
“Acredito que nosso maior desafio é reinventar os conceitos da medicina diante de uma doença nova. Isso talvez explique a capacidade do ser humano em se adaptar e a própria evolução da espécie”, comentou, falando sobre a necessidade de romper fronteiras da ciência para salvar vidas.
A realidade de uma pandemia é algo que ninguém esperava, nem os profissionais de saúde, admite o médico: “Nunca imaginei ver isso. Tudo muito novo, não tínhamos estrutura física, medicamentos”, lamentou.
No entanto, mesmo diante da adversidade, Freitas declarou que não perde o foco de sua missão e que seu coração transborda de felicidade quando um paciente recebe alta hospitalar: “Somos um instrumento na mão de Deus. Além de medicações e oxigênio, temos que dar esperança aos pacientes. Digo a eles, quando dou alta ‘Você é um vencedor, vida que segue’. Por outro lado, dói na alma ver tantas vidas perdidas, mas temos que ser fortes e não passarmos nossas aflições aos pacientes e à nossa equipe”.
Para o médico, faltou orientação adequada à população, para que o controle do vírus fosse feito de maneira mais eficiente: “A ação poderia ter ajudado mais. A saída para uma festa, até entre famílias, pode representar levar a doença para pais, avós. Presenciei muito isso desde fevereiro do ano passado”, concluiu, resoluto.