Um gesto simbólico, de efeitos incontáveis. Assim pode ser definida a iniciativa do presidente Donald Trump em reconhecer Jerusalém como capital de Israel e colocar em andamento um plano para mudar a embaixada dos Estados Unidos no país para a cidade.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, usou diversos argumentos para mostrar por quais motivos a iniciativa de Trump estava correta, incluindo a questão de soberania de Israel sobre seu próprio território. Mas, a mais chamativa foi a menção à Bíblia Sagrada que, em seu viés histórico, mostra a cidade como capital do povo judeu há milênios.
“Onde mais seria a capital de Israel, além de Jerusalém? […] Jerusalém nunca foi capital de nenhum outro povo”, afirmou Netanyahu, em visita à França, onde se encontrou com o presidente do país, Emmanuel Macron, que não apoia a decisão dos Estados Unidos.
“Paris é a capital da França. Jerusalém é a capital de Israel. Tem sido a capital de Israel por três mil anos, sendo capital do Estado moderno de Israel há 70 anos. Respeitamos sua história e suas escolhas e, como amigos, esperamos que respeitem as nossas”, enfatizou Netanyahu, listando as provas abundantes da presença judaica na região. “Vocês podem ler sobre tudo isso em um livro muito bom chamado Bíblia”, recomendou.
Ao final, foi ainda mais duro: [Respeitar o povo judeu] também é essencial para a paz. Penso que a paz deve ser construída sobre o alicerce da verdade, sobre os fatos do passado e sobre o presente. Esta é a única maneira de construirmos um futuro pluralista e bem-sucedido”.
Promessas
Rabinos também comentaram o gesto do presidente norte-americano e salientaram crer que Donald Trump e seu mandato à frente dos Estados Unidos serão abençoados por Deus devido Seu compromisso através assumido com Josué, no período do Antigo Testamento.
“Nós merecemos viver numa geração em que as profecias estejam sendo cumpridas, uma após a outra […] Os presidentes da América mereceram estar juntos com Israel ao cumprir a profecia do retorno a Sião e a construção do Estado de Israel”, disse um representante dos líderes religiosos em uma carta.
Enfatizando que Trump está desempenhando um grande papel nesse processo, o presidente do Conselho Regional de Samaria, Yossi Dagan, falando em nome de 250 rabinos israelenses, afirmou que Trump tinha “o privilégio raro de ser o primeiro presidente a liderar o reconhecimento de Jerusalém como a eterna capital do Estado de Israel”.
“Temos certeza de que você será lembrado na história do povo judeu para sempre como alguém que ficou em pé e não teve medo. Que a promessa de Deus a Josué seja cumprida sobre você”, acrescentou Dagan, fazendo referência a Josué 1:1-9, quando Deus definiu bênçãos ao líder que levaria o povo judeu à Terra Prometida, segundo informações do Breaking Israel News.
Terceiro Templo
Há diferentes organizações entre os judeus que trabalham na direção de construir o chamado Terceiro Templo em Jerusalém, no mesmo local onde os outros dois foram construídos no período histórico narrado pelo Antigo Testamento.
Atualmente, o local abriga duas mesquitas muçulmanas, Al-Aqsa e o Domo da Rocha, erguidas durante um período que os judeus perderam o controle sobre a cidade.
Segundo Asaf Fried, porta-voz do Movimento Unidos pelo Templo, a iniciativa de Donald Trump “foi um passo enorme para a chegada do Templo”. A entidade em questão funciona como uma associação dos diferentes movimentos que trabalham pela construção do Terceiro Templo.
Numa entrevista ao portal Breaking Israel News, Fried afirmou tal iniciativa “precisava, necessariamente, partir de um não-judeu para envolvê-los no processo e para que eles possam assumir sua parte no Templo”.
Para justificar seu raciocínio, Asaf Fried foi além e buscou uma referência histórica, comparando o papel desempenhado por Trump atualmente com do rei persa Ciro, que pôs fim ao exílio babilônico e ajudou a construir o Segundo Templo, e ainda lembrou de Provérbios 21:1: “O coração do rei é como um rio controlado pelo Senhor; ele o dirige para onde quer”.
Yakov Hayman, presidente do Movimento Unidos pelo Templo, vê o atual cenário como parte do desenrolar de uma uma série de mudanças importantes na história moderna de Israel. “Em 1917 tivemos a Declaração de Balfour que restabelecia Israel entre as nações da terra. Cem anos depois, em 2017 temos a declaração de Trump”, comentou.
“Quando os judeus e os não-judeus se unirem em massa, o novo Templo será inevitável”, previu. “O povo de Israel está voltando às suas raízes, ao mesmo tempo que os não-judeus do mundo estão percebendo a autenticidade de nossa reivindicação ao Monte do Templo e nosso direito de construir um Templo judaico como Casa de Oração para Todas as Nações”, acrescentou.
“Há algo muito especial e até sagrado em Trump. Às vezes, ele parece grosseiro e não conectado à religião, mas toda vez que se dirige à sua nação, fala sobre Deus. Na noite passada, disse que reconhecia Jerusalém porque esta era a coisa certa. É exatamente assim que um líder guiado por Deus deve falar”, pontuou, avaliando o presidente norte-americano.
Citando Êxodo 19:6, Hayman disse que a tarefa dos judeus “é agir como sacerdotes para tornar o mundo inteiro santo”, salientando que “isso só acontecerá com um Templo em Jerusalém”: “O próximo passo, o mais importante, deve ser tomado pelos judeus. Nós precisamos reunir muitas pessoas para começar a subir ao Monte do Templo com frequência”, concluiu.
A empolgação, no entanto, é acompanhada da cautela entre as principais lideranças judaicas. O rabino Hillel Weiss, porta-voz do Novo Sinédrio, contextualizou: “Um ano atrás, o Sinédrio pediu a Trump para construir o Templo como Ciro fez há 2.000 anos […] Ele claramente manifestou-se nesta direção, mas ainda há um longo caminho a percorrer e muitas armadilhas que podem impedir que isso aconteça logo”, observou.
“O Monte do Templo ainda não é um problema resolvido e as Nações Unidas estão trabalhando duro para tentar convencer o mundo de que os judeus não têm direito a ele”, alertou Weiss.