O pontificado de Mario Jorge Bergoglio vem sendo marcado por muitas declarações heterodoxas a respeito do cristianismo como um todo, e principalmente sobre os dogmas católicos. A mais recente envolve a divindade de Jesus de Nazaré, o Cristo.
O jornalista italiano Eugenio Scalfari, reconhecido por seu vasto conhecimento dos bastidores do Vaticano, afirmou que ouviu o papa Francisco dizer que não crê que Jesus fosse a encarnação de Deus.
“Quem teve, como tocou a mim em muitas ocasiões, a sorte de encontrá-lo e falar com ele com a máxima confiança, sabe que o papa Francisco concebe Cristo como Jesus de Nazaré, homem, não Deus encarnado”, declarou Scalfari.
“Quando me coube discutir estas frases, o papa Francisco me disse: ‘São a prova provada que Jesus de Nazaré, uma vez tornado homem, mesmo sendo um homem de virtude excepcional, não era na verdade um Deus’”, acrescentou o “vaticanista” do jornal La Repubblica.
A frase atribuída a Francisco evidencia que o mais progressista dos pontífices que estiveram à frente da Igreja Católica nas últimas décadas não vê Jesus como Deus, e nesse raciocínio, é possível depreender que o líder católico não acredita no sacrifício de cruz como um ato de redenção.
“A ala conservadora da Igreja Católica tem lá suas razões para não gostar do papa Francisco. […] Do ponto de vista teológico, portanto, Francisco pensa como um herege do século V. […] Irmã Dulce precisa interceder pela salvação do papa”, escreveu o portal O Antagonista.
Inferno
Em março de 2018, Scalfari revelou que o papa Francisco dava indícios de crer no aniquilacionismo, que é uma das principais polêmicas teológicas no cristianismo, pois sugere que a alma do pecador simplesmente “deixa de existir” após a morte.
Algumas denominações cristãs adotam essa interpretação para negar a existência do inferno, embora a maioria das igrejas, incluindo a Católica, se opõe a essa interpretação bíblica.
O jornalista relatou que durante um encontro com Francisco, ouviu uma opinião que seria alinhada ao aniquilacionismo: ele teria dito que as pessoas que se arrependem “obtêm o perdão de Deus”, enquanto as que não se arrependem, “desaparecem”: “Não existe um inferno, existe o desaparecimento das almas pecaminosas”, acrescentou Scalfari.
No entanto, com a polêmica instalada, o Vaticano se pronunciou para negar as afirmações do jornalista, dizendo que a “reconstrução” da fala de Francisco desvirtuou a conversa em uma reunião privada. “Nenhuma citação do artigo mencionado deve ser considerada como uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre”, dizia o texto da nota.
Scalfari – que já teve outras matérias sobre o papa Francisco questionadas pelo Vaticano – defendeu-se dizendo que, embora não tenha uma gravação que comprove a declaração do pontífice, sempre usa o texto para traduzir o sentido da conversa que manteve com o entrevistado.
“Tento entender a pessoa que estou entrevistando, para depois escrever suas respostas com minhas próprias palavras”, argumentou Scalfari, abrindo a possibilidade para uma distorção causada por sua interpretação pessoal.
Em 2014, Scalfari divulgou que o papa havia abolido o pecado, o que motivou um desmentido do Vaticano. Em outra ocasião, a Sala de Imprensa da Santa Sé se viu obrigada a negar que o papa tivesse afirmado que Adão e Eva são mitos.