O jornalista Flávio Ricco, especializado em cobrir o conteúdo das emissoras de TV, publicou um artigo que propõe uma reflexão a respeito do futuro dos canais que alugam horários de sua grade de programação a igrejas neopentecostais após o efeito que a pandemia do novo coronavírus causará no fluxo de caixa dessas instituições.
Há anos Flávio Ricco expressa sua oposição a essas transações entre emissoras de TV, concessionárias de um serviço estatal. Em diversos artigos, já indicou enxergar uma transgressão ao conceito de Estado laico, embora seus argumentos não se sustentem no próprio texto da Constituição Federal.
O cenário de distanciamento social levou à suspensão dos cultos em todas as igrejas, e assim, a uma queda vertiginosa na arrecadação de dízimos e ofertas, segundo o jornalista.
“Qual o futuro de muitas TVs, que até agora equilibram as suas contas nas verbas de igreja? Com os templos fechados, sem passar a sacolinha e a maioria apelando para dízimos digitais, incapazes de cobrir as suas próprias despesas, continuará sendo possível empregar parte desse dinheiro em compras de horário nas diversas emissoras?”, questionou.
No artigo publicado no portal Uol, Ricco lembra que “o ‘Show da Fé‘, do R.R. Soares, desde 2003, ocupa uma hora na faixa nobre da Band, assim como na RedeTV!, que destina sete horas da sua grade diária para programas da IURD, Igreja Internacional da Graça de Deus e Igreja da Graça no seu Lar”.
“A TV Gazeta tem cinco horas distribuídas entre Universal e Paz e Vida. Será que depois de tudo isso, diante de uma outra realidade, essas e outras tantas emissoras de TV estarão obrigadas a fazer televisão?”, questionou, referindo-se à eventual necessidade de produzirem conteúdo próprio para cobrir o espaço na grade de programação.
Sem esconder sua torcida contrária à presença das igrejas nas TVs abertas, ele finaliza seu artigo fazendo referência aos efeitos da pandemia: “Tem males que…”.