O pastor José Wellington Bezerra da Costa, 78 anos, que foi reeleito como presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus, comentou sobre o envolvimento da denominação com a política e sobre a polêmica em torno do deputado Marco Feliciano, que também faz parte da igreja.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, Bezerra afirmou que o pastor e deputado Marco Feliciano está se aproveitando em torno da política em torno dele para se promover politicamente. Ele disse também que só depois que assumiu a presidência da Convenção, cargo que ocupa há 25 anos, a Assembleia de Deus passou a se envolver no âmbito político.
– O Feliciano é novo, jovem, inteligente e eu creio que vocês são inteligentes, vocês estão vendo que ele está querendo tirar proveito. Ele é político, está querendo tirar proveito desse troço. Ele está dando corda na coisa. O Marco Feliciano, bobo ele não é. – afirmou o pastor, que comentou também sobre o acordo político que elevou Feliciano à presidência da comissão: – não foi porque ele é evangélico, foi um acordo do partido. Destinaram aquilo para o PSC. Coube ao Marco Feliciano e ele abraçou.
-Nós, da Assembleia de Deus, não participávamos da vida política do país. Só depois, quando eu assumi a presidência… (…) Quando eu cheguei, com o crescimento da Assembleia de Deus, eu entendi que precisávamos colocar alguém para nos representar. E isso foi feito. Hoje temos 28 deputados federais ‘assembleianos’ – completou.
Questionado sobre a forte oposição que Feliciano enfrenta, principalmente, por parte de lideranças ligadas ao movimento LGBT, José Wellington disse se tratar de um movimento político coordenado por grupos políticos que teriam interesses na aprovação de leis que são defendidas pelos ativistas gays.
– (…) há um grupo patrocinando isso aí. Você sabe que infelizmente que esse grupo de gays, lésbicas e essa gente cresceu demais nos últimos tempos. Há interesse da parte deles que essas leis sejam aprovadas. Mas acredito que uma sociedade sensata jamais aceitará um comportamento antissocial como esse. – declarou Bezerra, que comentou também sobre o papel da igreja no Estado.
– Em relação ao Estado ser laico, eu entendo perfeitamente o texto da lei. O Estado é laico, mas o povo é cristão, o povo tem religião – afirmou.
– Nós trabalhamos para paz social, na recuperação da criatura humana. Eu entendo que o homem, em si, tem condição de se recuperar em qualquer circunstância da vida. O lado social, o benefício à criatura humana em todas as áreas da vida, desde a educacional, da alimentação, da parte familiar, da parte social, de se integrar à sociedade, procurar ajudá-lo para que ele consiga emprego, trabalho, afim de que essa pessoa, que era uma pária para a nação, passe a ser um cidadão de bem, operando, contribuindo para a nação – completou.
Outro assunto abordado na entrevista foi o constante assédio que a igreja sobre de partidos políticos, que buscam na entidade religiosa apoio para eleger seus candidatos. Porém, o líder religioso ressalta que a igreja tem como orientação principal apoiar politicamente seus membros, em detrimento de outros políticos.
– Por que, se eu elejo uma pessoa do nosso convívio eclesiástico, [é] alguém que eu tenho uma certa ascendência [sobre], que ele possa ser um legítimo representante da igreja. Temos que trabalhar os de casa. Eles merecem a atenção, a ajuda e a confiança – explicou.
– Na Igreja eu tenho PT, eu tenho PR, tenho PSDB, cada um acha que sua filiação está correta, Deus te abençoe. No contexto geral, somos crentes. – completou José Wellington, sobre os partidos com os quais a igreja está envolvida.
O líder religioso comentou também a crescente polêmica de que o preconceito contra evangélicos vêm crescendo em nossa sociedade, e afirmou que isso não corresponde com a verdade, visto que hoje o protestantismo é bem mais aceito do que era há algumas décadas.
– Templos nossos foram destruídos, entravam nas casas do crente, arrancavam as bíblias, faziam fogueira de bíblias nas praças, isso aí nós chegamos a conhecer no meu tempo. De lá para cá melhorou muito. Por que? Ontem, nossa penetração social era classe D para baixo. Hoje, pela graça de Deus, conseguimos alcançar uma classe social mais alta. A nossa igreja tem juiz de direito, tenho 14 netos e todos eles formados, quatro médicos. Então essa penetração social, ela mudou a visão da Assembleia de Deus. Esse problemazinho do Marco Feliciano é muito mais de enfeite da mídia e um pouco de proveito dele – afirmou.
Bezerra encerrou comentando sobre a similaridade entre a campanha para a Convenção e uma campanha política, meio com o qual a igreja vem tendo crescente contato.
– Infelizmente, é. Não era assim. Eu me recordo de quantas vezes eu me reunia com as lideranças da nossa igreja numa convenção, não tão grande quanto essa, e os candidatos ali e nós votávamos por aclamação e OK.
Por Dan Martins, para o Gospel+