Uma mobilização de dezenas de pastores ligados à Igreja Universal do Reino de Deus vem sendo feita contra o escritor JP Cuenca, que fez uma publicação polêmica em rede social permitindo interpretação de apologia à violência.
João Paulo Cuenca usou o Twitter para dizer, em 16 de junho de 2020, que “o brasileiro só será livre quando o último Bolsonaro for enforcado nas tripas do último pastor da Igreja Universal”. Diante da repercussão negativa, o escritor defendeu-se dizendo ter feito uso de uma paráfrase do padre francês Jean Meslier (1664 – 1729), que dizia “o homem só será livre quando o último rei for enforcado nas tripas do último padre”.
Reação
Mais de 80 ações em juizados especiais cíveis foram movidas por pastores da Igreja Universal contra JP Cuenca, em diversas cidades de todo o país. Segundo a defesa do escritor, as ações contra ele foram abertas em 19 estados diferentes com pedidos de ressarcimento por dano moral em valores entre R$ 10 mil e R$ 20 mil.
“As ações são muito parecidas, são todos pastores da igreja, isso é uma ação coordenada, isso é litigância de má-fé. Essas pessoas estão usando o sistema jurídico do país para me constranger. Essa ação coordenada é um abuso do uso da Justiça”, queixou-se o escritor, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, onde já trabalhou como colunista.
O jornal procurou um dos autores das ações contra JP Cuenca: o pastor Gildásio Lima Sarmento, de Planaltina (DF), recusou entrar em detalhes, e sugeriu à reportagem que procurasse a assessoria de imprensa da instituição onde exerce seu ministério. “A Unicom pode passar essas informações melhor para você. Você pode entrar em contato com a Unicom, que é a Universal Comunicações, eles te informam melhor”, disse o pastor.
A Igreja Universal explicou que a Unicom é o departamento da instituição que responde pela assessoria de imprensa da igreja, e que há orientação da direção que os pastores remetam todos os pedidos de veículos de mídia ao setor: “A informação dada pelo pastor, de que o jornalista deveria procurar a Unicom, apenas cumpriu o protocolo da Universal: somente este departamento pode atender a imprensa”, disse em nota.
A instituição dirigida pelo bispo Edir Macedo negou que esteja coordenando a abertura das ações na Justiça, visto que abre espaço para que seus pastores possam adotar medidas individuais em relação à publicação de JP Cuenca, valendo-se do preceito legal em vigência no Brasil de proibição do preconceito religioso.
“Podemos afirmar, categoricamente, que não há advogado da Universal atuando nesses supostos processos, em nome da Igreja ou não”, diz a nota, acrescentando que “observadas as normas de conduta que são exigidas de quem exerce o ministério religioso, os oficiais da Igreja Universal do Reino de Deus têm autonomia para tomar suas próprias decisões quanto à sua vida privada”.
“A liberdade de expressão não é um direito absoluto. No Brasil, não existe permissão para que uma ‘sátira’ ou ‘metáfora’ promova ideias desprezíveis como, por exemplo, o nazismo, o racismo ou o preconceito de qualquer tipo, inclusive o preconceito religioso”, acrescentou o comunicado da instituição.