A Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (ANAJURE) se candidatou a ocupar um posto consultivo destinado a ONGs na Organização das Nações Unidas (ONU). A iniciativa conta com apoio do governo Jair Bolsonaro, através do Ministério das Relações Exteriores.
A candidatura, iniciada em 2017, pode ter um desfecho acelerado devido à concordância da entidade com grande parte da agenda implementada pelo atual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que se coloca como um opositor à ideologia de gênero, por exemplo.
A ANAJURE deverá ter seu pedido votado pelo Conselho Econômico e Social (ECOSOC) a partir do dia 20 de janeiro, em Nova York, onde fica a sede da ONU. O apoio do governo brasileiro – um dos 19 com direito a voto nesse comitê – pode influenciar em favor da aprovação.
Segundo informações do jornalista Jamil Chade, do portal Uol, “várias entidades já contam com esse status, entre elas grupos que representam interesses indígenas, de direitos humanos e de minorias”. A presença de um grupo de especialistas em Direito ligados ao segmento evangélico pode tornar a balança do debate social menos desequilibrada.
Uziel Santana, presidente da ANAJURE, explicou que a entidade tem atuado junto a refugiados em países do Oriente Médio e que vem também trabalhando em coordenação com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados, no Brasil. “Nossa ação é independente de qualquer governo”, declarou o jurista.
“No governo Bolsonaro, temos apoiado várias pautas que nos são comuns, especialmente o trabalho do chanceler Ernesto Araújo. Isso, certamente, fortalece nossa candidatura, sem que isso implique adesão irrestrita às pautas de qualquer governo. No passado não foi assim, e no presente não é assim”, garantiu Santana.
Uma demonstração disso, segundo ele, é que a entidade já está presente na Organização dos Estados Americanos (OEA), e para isso manteve um diálogo na ocasião com o governo do Partido dos Trabalhadores.
O alinhamento com o governo na pauta conservadora foi sinalizado já em junho do ano passado, quando a entidade divulgou nota em apoio à decisão do Ministério das Relações Exteriores de evitar usar o termo “gênero” nos debates na ONU, passando a adotar “igualdade entre homens e mulheres” e referir-se ao sexo como “feminino e masculino”.
“A Anajure manifesta apoio à posição governamental acerca da não utilização do termo ‘gênero’ nos moldes propostos pela teoria de gênero […] defende a possibilidade de se tratar tais temas no âmbito da política externa, inclusive, por meio de orientações aos agentes envolvidos no setor”, dizia trecho da nota, que acrescentava o repúdio às “distorções midiáticas ao noticiar acontecimentos relacionados a temas delicados, como a sexualidade” e definia a posição da entidade “contrariamente a toda manifestação de agressividade perante minorias sexuais, asseverando o seu compromisso inegociável com a proteção das liberdades civis fundamentais”.