Leonardo Gonçalves é, sem dúvidas, um expoente da música gospel brasileira e um dos principais nomes do mercado fonográfico voltado à fé, e na última sexta-feira, 01 de abril, anunciou que iria dar um tempo na carreira.
Muitos de seus seguidores nas redes sociais temeram que se tratasse de uma brincadeira, afinal, o dia do anúncio é conhecido como “dia da mentira”. Mas o comunicado publicado em sua página no Facebook era real.
Em entrevista à revista Veja, Gonçalves, 36 anos, confirmou sua decisão, afirmando que o salto que sua carreira teve nos últimos anos – conquistando espaço até no meio secular – aumentou de forma excessiva a exposição de sua vida na mídia. E isso o incomoda.
A pausa na carreira, chamada de “período sabático”, não tem prazo para terminar. Com compromissos a cumprir ainda em 2016, como uma turnê de divulgação do DVD “Princípio”, lançado pela Sony Music, Leonardo Gonçalves quer se dedicar a outros projetos.
“No total, tenho 22 anos de carreira. E estou bem cansado, especialmente da exposição que eu não esperava. Comecei a cantar quando vim para o Brasil em 1994, e logo já estava viajando pelo país com um grupo. O primeiro disco solo veio em 2002. Não quero soar ingrato, mas meu projeto de vida nunca foi ser cantor. Sou uma pessoa mais reservada, tem a ver com minha personalidade”, afirmou.
Questionado sobre o que fez tomar a estrada da carreira artística, o cantor fez um breve resumo de sua história de vida: “Saí do Brasil com 2 anos de idade e morei na Alemanha até os 15. Eu era muito interessado em linguística, tradução, leitura. Pra mim, escrever veio primeiro. Com sete anos escrevi meu primeiro conto. Minha família decidiu voltar pro Brasil, mas como eu estava distante há tanto tempo, meu português era muito rudimentar. Então, no auge da adolescência, quando você já não sabe muito bem quem é, eu perdi minha maior referência que era a linguagem, eu não conseguia me comunicar. Foi nesse contexto que eu descobri a música, o cantar. E isso foi me realizando. A experiência da música enriqueceu muito minha vida espiritual. E fiz um trato com Deus que eu ia cantar enquanto Ele quisesse que eu cantasse. Ao mesmo tempo, fiz Letras na Unicamp, pois ainda planejava seguir a carreira acadêmica. Queria ser escritor e professor”, resumiu.
A forma como Leonardo Gonçalves explica o problema da exposição tem muito a ver com a cultura da Geração Y, para quem tudo deve ser filmado, fotografado e exposto nas redes sociais: “A cultura do selfie é algo que me incomoda profundamente, por razões diversas. Demorei dez anos para gravar um DVD e atrasei ao máximo o lançamento. Me deu aflição por razões inexplicáveis. Sei que a gente vive no mundo da imagem. Mas me incomoda o fato de que hoje em dia a gente vê música, não ouve”.
Dizendo-se não se considerar “famoso”, Leonardo Gonçalves revela que seu apreço pela privacidade foi deixado de lado com a carreira artística: “Não quero desprezar, mas pra mim famoso de verdade é a Britney Spears e os cem paparazzi atrás dela o tempo todo (risos). Meu conceito de fama é esse. Eu sempre fui o menino nerd da turma. Tirava boas notas e apanhava dos outros garotos na escola, pelo menos duas vezes na semana (risos). Vivia lendo e não tinha amigos. Era muito pequeno, estrangeiro… foi uma série de coisas que ajudou a definir quem eu sou, minha personalidade”, comentou.
O cantor falou ainda sobre uma situação que é imposta pela carreira artística e que o contraria, que é a necessidade de estar na mídia: “É contraditório mesmo, eu sei, mas já coloco bastante limite. Apesar de não gostar, sei que a exposição é necessária, porque acredito que a mensagem é relevante. E não tem jeito de levar essa mensagem sem se expor. Não é a exposição da arte que me incomoda, é a cultura do selfie, quando a arte fica em segundo plano”, lamentou.
Sobre os planos futuros, revelou que “está na agenda escrever um livro”, mas pontuou que vai se precaver: “Se fizer isso, dificilmente vou lançar com meu nome. Adoraria escrever uma fantasia. Sou fã de escritores como George R.R. Martin e J. R. R. Tolkien”.
Sobre as críticas que são direcionadas ao meio gospel, ponderou: “Não gosto do preconceito que aponta que algo é ruim só no meio religioso. O que é ruim é ruim. Não é mais ou menos nocivo. A hipocrisia é ruim em qualquer lugar. O egocentrismo é ruim, ponto. Minha expectativa em relação ao ser humano é que ele seja humano, crendo ou não em Deus. Não segmento a música entre religiosa e não religiosa. Porém a carreira artística cristã envolve outras coisas no imaginário do público. E isso é intensificado com as redes sociais. Eu acredito que Deus não criou nenhum ser humano para ser famoso, para parecer mais importante que o outro. Somos todos iguais. A gente vive em um mundo de tantos ruídos e críticas, que, sinceramente, minha opinião não importa. O que eu tenho a dizer eu digo através da minha arte. Só porque tenho seguidores no Facebook, preciso dar opinião sobre tudo? Manter a sanidade nos dias de hoje não é fácil. A tentação de ser hipócrita é diária. De falar o que as pessoas querem ouvir”, disse.
Por fim, falou que pretende ajudar novos artistas em começo de carreira e anunciou: “Vou trabalhar bastante este ano, e no próximo fico fora. Não sei se volto”.