O lançamento de dois livros que denunciam escândalos administrativos no Vaticano expôs a luta do papa Francisco para moralizar os gastos da Cúria Romana, e a oposição que ele sofre de cardeais que vivem luxuosamente às custas do desvio de doações.
A imprensa internacional apelidou o novo escândalo de Vatileaks, numa referência ao vazamento de informações confidenciais do Vaticano. Os livros que mostrarão em detalhes a forte resistência enfrentada pelo papa Francisco na sua luta para implementar uma reforma financeira na Igreja Católica são “Avaricia”, de Emiliano Fittipaldi, e “Via Crucis”, de Gianluigi Nuzzi, ambos jornalistas.
Segundo informações da agência France Presse, os documentos que comprovam a má administração financeira foram fornecidos pelo padre espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda e pela ex-funcionária do Vaticano Francesca Chaouqui, italiana. Ambos foram acusados pelo Vaticano por roubo de textos confidenciais e detidos no último fim de semana.
De acordo com jornalistas da imprensa italiana que tiveram acesso aos livros antes de seu lançamento, os livros se dedicam a expor a oposição interna que o papa reformador vem enfrentando na Cúria.
Segundo o jornalista e escritor Fittipaldi, a Cúria tem adotado como prática o desvio de doações feitas por fiéis de todo o mundo para ações de assistência aos mais pobres para sustentar o estilo de vida luxuoso de vários cardeais, inclusive aposentados.
Em “Avaricia”, Fittipaldi revela que aproximadamente €$ 400 milhões (cifra superior a R$ 1,6 bilhão na cotação de hoje, 04 de novembro) teriam sido desviados “Óbolo de São Pedro” para cobrir gastos com a Cúria Romana.
O autor aponta que para maquiar os desvios, as despesas foram registradas como “perdas por diferenças no inventário”; “buracos” de €$ 700 mil nos relatórios de despesas de supermercado; e €$ 300 mil de despesas com farmácia não contabilizadas.
No livro “Via Crucis”, o autor revela que, em uma reunião a portas fechadas há dois anos, o papa Francisco expôs sua insatisfação com o cenário, lamentando que “os custos estejam fora de controle” e que ainda assim, tenha havido um aumento de 30% do número de funcionários nos últimos cinco anos.
Nuzzi conta que tanto o padre, quanto a ex-funcionária italiana vazaram os documentos porque queriam “ajudar o papa”, denunciando a oposição às reformas.
O Vaticano divulgou nota afirmando que considera ambos como “traidores” e pontuando que vazar documentos internos “não é uma maneira de ajudar a missão do papa”.
“Este trabalho começou há um ano e baseia em informação verificada […] Entendo que o Vaticano esteja preocupado […] A investigação revela a distância entre a posição do papa e o funcionamento real”, comentou Fippipaldi.
Desde que foi eleito ao pontificado, o papa Francisco não economiza críticas em público à Curia Romana, que ele classifica como um reduto de “intrigas, fofocas e panelinhas com ambições de fazer carreira”.