O ex-presidente Lula (PT), condenado à prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, vem percorrendo cidades do nordeste para desviar o foco da mídia e do eleitorado em relação às acusações que pesam contra ele. Em um desses comícios, afirmou que não chegou onde chegou “sem o dedo de Deus”.
A estratégia de Lula, o primeiro ex-presidente da história do Brasil a ser condenado por crime comum, é se apresentar como um enviado divino perseguido por forças malignas que tentam combatê-lo. As declarações do petista com teor religioso são sempre acompanhadas de desdém ou de autopiedade.
Em visita à cidade de Ouricuri, no sertão pernambucano, na última quinta-feira, 31 de agosto, o ex-presidente adotou discurso franco de quem está em campanha para tentar voltar à presidência da República em 2018.
“Fui o presidente que durante oito anos não deixou de receber nenhum prefeito de qualquer partido político”, alegou, antes de atacar “as elites” da sociedade que teriam se empenhado em tirar do poder sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), através de um impeachment por crime de responsabilidade.
“As pessoas que são ricas não deram nenhuma importância e diziam que o Lula criou o Bolsa Família e que isso ia deixar todo mundo vagabundo […] Eles derrubaram a Dilma porque o PT estava mostrando que o pobre não tem de morar na senzala”, acrescentou, omitindo os crimes de corrupção e desvio de recursos públicos protagonizados por vários integrantes do partido.
Arrogância
As declarações de Lula são cercadas de arrogância e desprezo às críticas que recebe. O ex-presidente demonstra não considerar a hipótese de que suas ações trouxeram consequências negativas ao país, e não raras vezes, se comparou a Deus em declarações polêmicas.
Em março último, durante depoimento ao juiz Sérgio Moro, Lula se comparou a Deus de forma implícita, ao rebater acusações feitas contra ele pelo pecuarista José Carlos Bumlai: “Doutor, se o senhor soubesse quanta gente usa meu nome em vão… De vez em quando, eu fico pensando que as pessoas tinham de ler mais a Bíblia para não usar tanto meu nome em vão”, disse.
A referência feita por Lula foi à passagem de Êxodo 20:7, que diz “não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão”. A repercussão de tal declaração foi enorme e negativa nas redes sociais.
Antes, o ex-presidente já havia expressado desprezo por evangélicos. Uma gravação de uma conversa entre ele e o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, demonstrou qual o pensamento que Lula nutre em relação a esse grupo da sociedade.
No meio da conversa, Lula diz que os servidores da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF) “se sentem enviados de Deus”. Nesse momento, Paes faz a observação sobre a profissão de fé de alguns dos integrantes da Operação Lava-Jato: “É, então… e os caras do Ministério Público são crentes, né?”, diz, em tom preconceituoso.
Lula, com sua arrogância peculiar, diz que se vê como uma espécie de mártir: “É uma coisa absurda. Uma hora nós vamos conversar um pouco, porque eu acho que eu sou a chance que esse país tem de brigar com eles [Ministério Público e Polícia Federal] e tentar colocar [as coisas] no devido lugar. Nós queremos instituições sérias, mas tem que ter limite, tem que ter regra”.
As “regras” a que Lula se refere são ferramentas de limitação do trabalho de investigação das instituições e também o controle de mídia, que ele tentou implantar em seu segundo mandato, e que agora, em sua campanha antecipada e irregular, prometeu novamente pôr em prática, censurando a mídia.