As gravações feitas pela Polícia Federal através dos grampos nos telefones do ex-presidente Lula (PT) revelaram um diálogo entre ele e o prefeito do Rio de Janeiro (PMDB), Eduardo Paes, em que ambos se referem de forma pejorativa aos “crentes”, termo usado comumente para se referir aos evangélicos.
Na ligação, Paes liga para Lula para se solidarizar com ele a respeito da execução dos mandados de busca e apreensão e condução coercitiva assinados pelo juiz Sérgio Moro. “É um escândalo, é uma vergonha. Tem que ter muita carcaça, seu posicionamento foi excepcional. Tem que parar com essa palhaçada no Brasil. Passou de todos os limites”, elogia o prefeito do Rio.
No meio da conversa, Lula diz que os servidores da PF e do Ministério Público Federal (MPF) “se sentem enviados de Deus”. Nesse momento, Paes faz a observação sobre a profissão de fé de alguns dos integrantes da Operação Lava-Jato: “É, então… e os caras do Ministério Público são crentes, né?”, diz, em tom preconceituoso.
Lula, demonstrando certa arrogância, fala francamente que se vê como uma espécie de mártir: “É uma coisa absurda. Uma hora nós vamos conversar um pouco, porque eu acho que eu sou a chance que esse país tem de brigar com eles [Ministério Público e Polícia Federal] e tentar colocar [as coisas] no devido lugar. Nós queremos instituições sérias, mas tem que ter limite, tem que ter regra”.
Ouça o diálogo, permeado de palavrões, entre o ex-presidente Lula e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes:
https://www.youtube.com/watch?v=cberIO_j7CQ
Preconceito recorrente
Ambos os personagens da gravação acima já expressaram, anteriormente, uma visão pouco respeitosa em relação aos evangélicos, em oportunidades anteriores.
Lula, em maio do ano passado, participava de um evento sindical quando zombou da pregação de muitos pastores evangélicos brasileiros: “Os pastores evangélicos jogam a culpa em cima do diabo. Acho fantástico isso. Você está desempregado é o diabo, está doente é o diabo, tomou um tombo é o diabo, roubaram o seu carro é o diabo”, disse o ex-presidente, arrancando gargalhadas da plateia na ocasião. “Eu acho legal (culpar o diabo) porque é direto. Não tem nem investigação. É direto. O culpado está ali. É a teoria do domínio do fato”, acrescentou Lula, mais uma vez ironizando.
À época, diversos líderes se manifestaram sobre a fala de Lula e uma das respostas mais objetivas ao ex-presidente foi a do pastor Silas Malafaia: “Você está enganado, Lula. Nós sabemos que o diabo é um ser que odeia o ser humano. Mas nós não tiramos as responsabilidades das pessoas de suas ações […] O mensalão não foi o diabo não: foi o PT. A roubalheira escandalosa da Petrobrás, não é o diabo não, é o seu partido, é o PT”, disparou. “Não vai dar mais para sua bravata enganar a gente não […] A paciência do povo já está cheia de tanta safadeza, de tanta roubalheira, de tanto engano”, acrescentou.
“Não tenho ódio de você não. Mas deixa eu falar uma coisa para você, que você vai entender: saiba que Jesus liberta da cachaça. Jesus liberta o homem da cachaça […] Satanás usa isso. Quem decide somos nós. O diabo usa as coisas, mas a decisão é do ser humano. Ele tem livre arbítrio e é um ser inteligente. Jesus liberta o homem da cachaça que transforma ele, esse vício miserável. Deus te abençoe. Deus tenha misericórdia de você”, concluiu.
Malafaia também presenciou uma gafe de Eduardo Paes a respeito dos evangélicos. Na inauguração da nova sede da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) na Penha, Rio de Janeiro (RJ), o prefeito carioca se espantou com a velocidade da conclusão das obras no local, e no púlpito, saiu-se com essa: “Vai construir igreja assim no inferno”, demonstrando, novamente, seu vocabulário peculiar.