A ex-primeira-dama Marisa Letícia teve sua morte oficialmente declarada às 18h57 da última sexta-feira, 03 de fevereiro, após complicações de um acidente vascular cerebral (AVC) culminarem com a interrupção do fluxo sanguíneo em seu cérebro.
No sábado, 04, ela foi velada na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo (SP). Inicialmente, o velório foi fechado à família. No entanto, quando foi aberto ao público, o ex-presidente Lula (PT) usou o momento para fazer um verdadeiro comício perante aos militantes e simpatizantes petistas.
De frente com os sacerdotes católicos presentes ao velório, Lula aproveitou o momento de consternação pública por sua perda para dizer que sua esposa havia morrido “triste”, pois as “mentiras” contadas sobre ele na Operação Lava-Jato a haviam ofendido.
Lula exaltou o companheirismo de Marisa Letícia no período em que ele e outros aliados tentavam fundar o Partido dos Trabalhadores, e aproveitando o ensejo, atacou os adversários políticos: “Marisa morreu triste. A canalhice que fizeram com ela, a imbecilidade, a maldade… Eu vou dedicar… Eu tenho 71 anos, não sei se Deus me levará em curto prazo. Eu acho que eu vou viver muito, porque eu quero provar que os facínoras que levantaram leviandades com a Marisa, tenham um dia a humildade de pedir desculpas a ela”, disse o ex-presidente.
Próximo a encerrar seu discurso, Lula novamente afirmou que não é culpado das coisas que o acusam: “Se alguém tem medo de ser preso, este que está enterrando sua mulher hoje, não tem […] Não tenho que provar que sou inocente. Eles que precisam provar que as mentiras que estão contando são verdadeiras”.
Assista:
Case com alguém que não vá fazer um comício no seu velório quando chegar a hora.
— Vera Magalhães (@veramagalhaes) 5 de fevereiro de 2017
Psicopatia
O estudioso e escritor Augusto de Franco usou sua página no Facebook para comentar a postura de Lula no enterro da esposa, e afirmou que, nas redes sociais, muitas pessoas erraram ao festejar a morte de Marisa Letícia, mas destacou que o ato mais surpreendentemente negativo havia partido do próprio viúvo.
“Não se deve desejar ou comemorar a morte de ninguém. As pessoas que aproveitaram a morte de Marisa para atacar Lula erraram. E eu repudio todas as agressões a Marisa (que conheci pessoalmente, há mais de 30 anos). Mas também não se deve instrumentalizar a morte de alguém – sobretudo de um ente querido – para propósitos políticos. Transformar o velório de Marisa num ato político e atribuir a culpa à operação Lava Jato vai além do aceitável”, comentou Franco.
“Ontem tuitei que só um psicopata teria coragem de fazer isso: instrumentalizar a morte da própria mulher para a luta política. Reafirmo o que disse. Porque Lula não apenas consentiu que se armasse um palanque no velório (com decoração e tudo, e até um banner gigantesco em que ele próprio aparecia com mais destaque ao seu lado). Foi pior. Ele ‘subiu’ no palanque e discursou. Chamou os integrantes da força-tarefa de facínoras, sugerindo que a morte de Marisa foi de algum modo causada pelos agentes do Estado democrático de Direito, que estão apenas obedecendo as leis. Isso é falso. E revoltante”, protestou o escritor.
Franco observa que “não foram as pessoas que usaram erradamente a morte de Marisa para atacar Lula o alvo do evento, e sim os que estão cumprindo seu dever de investigar os crimes cometidos por Lula, que envolveram, sim, sua família (sua mulher e seus filhos)”.
Por fim, o escritor analisa que a insanidade de Lula no episódio foi acompanhada pelos demais integrantes do PT: “Os que criticam corretamente Lula não têm nenhuma responsabilidade pelo fato dos seus familiares estarem sendo investigados e processados. Quem atravessou o sinal – aproveitando um momento de dor, que deveria ser privado, para atacar os que consideram inimigos – foram os dirigentes e militantes do PT sob o comando dele, o líder-candidato. Nem a Máfia ousava fazer tanto. Mesmo quando o chefe de uma família era assassinado e os mandantes compareciam ao velório, mantinha-se o respeito e o decoro”, concluiu.