Marina Silva tem sido criticada por setores da sociedade que simpatizam com as exigências da militância homossexual e que entendem que as mudanças que a presidenciável exibiu em seu programa de governo são resultado de sua fé evangélica.
Porém, a própria candidata fala abertamente sobre sua fé e explica que não se aproveita de sua condição de missionária da Assembleia de Deus do Plano Piloto, em Brasília, para alavancar sua carreira política.
“Não faço de palanques púlpitos, nem de púlpitos, palanques. Minhas decisões políticas são elaboradas, discutidas e implementadas nos espaços da institucionalidade da política […] Nunca instrumentalizei minha crença religiosa para um fim político”, disse à Folha de S. Paulo.
No entanto, Marina reforça que sua fé em Deus norteia seus passos: “A vida é uma oração, um processo constante e intenso de relacionamento com Deus”, disse a candidata do PSB, que frisou ainda que não há nenhuma doutrinação cristã que ponha em xeque a cidadania de quem professa a Jesus como Salvador: “Para os cristãos de qualquer corrente teológica, a Bíblia é a base de sua fé. O exercício da fé é um direito de ordem pessoal, assegurado pela Constituição do Brasil. Apenas aqueles que se pautam pela intolerância religiosa encaram esse direito como elemento que conspira contra o Estado laico e o Estado de Direito”.
Assim como outros presidentes que ocuparam o cargo no Planalto, Marina diz que se eleita, continua sendo mais uma das cidadãs brasileiras protegida pelo direito constitucional de fé e crença: “O presidente tem direito de vivenciar espaços de sua vida num ambiente restrito à sua pessoalidade sem a obrigatoriedade de compartilhar essa experiência com a chamada opinião pública”, pontuou.
A parceria com Eduardo Campos
A decisão tomada por Marina Silva de integrar a chapa que Eduardo Campos liderada no PSB foi tomada após muita oração, dizem seus assessores.
Na madrugada do dia 04 de outubro de 2013, quando precisava decidir a qual partido se filiaria para poder concorrer nas eleições deste ano Marina recorreu à Bíblia, pedindo para que Deus falasse com ela através de um versículo e assim, a ajudasse a tomar a decisão correta.
“Ela, para tomar uma decisão, santo Deus, demora, porque, além de consultar a terra, ela tem que consultar o céu. Tem de ouvir todo mundo, aí amadurece [a ideia] Ela nunca [misturou fé e política], não faz parte da bancada evangélica”, afirmou a pastora Valnice Milhomens, da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, amiga de oração há mais de uma década de Marina Silva.
O próprio Eduardo Campos já havia confirmado numa entrevista à Folha que Marina havia dito a ele que a escolha de filiar-se ao PSB e juntar-se como vice na sua candidatura tinha sido inspirada na Bíblia Sagrada.
A conversão
Marina foi criada no catolicismo e em 1997, estava doente e consultou um médico que, durante a conversa, a colocou numa ligação com o pastor André Salles, à época da Assembleia de Deus.
“Achava que aquilo era uma coisa fora do prumo para um médico. Aí o pastor André falou para mim: ‘Olha, eu tenho o dom de revelação do Espírito Santo’”, afirmou Marina Silva. A declaração pode ser vista num vídeo em que a candidata fala de sua conversão.
Desde então, Marina que quase se tornou freira, é convertida ao cristianismo evangélico, e nas oportunidades que tem para falar de sua fé, explica de forma incisiva que suas ideias sobre política não são pautadas pelos interesses políticos de líderes religiosos.
Fanatismo?
O reverendo Caio Fábio possui um longo relacionamento de amizade com Marina e numa entrevista à Folha afirmou que a presidenciável não possui “nenhum resquício de fanatismo” religioso.
“Seus dogmas são pessoais. A fala dela é a do bom senso”, descreveu Caio Fábio. “É uma coisa idiota alguém pensar que o Brasil pode se tornar um Irã, um califado evangélico, um país evangélico taleban. Isso é idiotice, loucura e insanidade”, acrescentou o líder do movimento Caminho da Graça.
As críticas feitas a Marina Silva por líderes evangélicos por conta de suas posturas políticas são na verdade, queixas de quem gostaria de ver alguém com tanto capital eleitoral hasteando as bandeiras da bancada evangélica, diz Caio: “Eles querem dela um grito de ruptura, que ela proponha um movimento evangélicos contra isso ou aquilo’. Aí ela vira persona non grata’ por ser uma pessoa infinitamente superior à mentalidade desses trogloditas”.
Direitos civis a homossexuais
Numa entrevista concedida ontem, 01 de setembro, Marina ressaltou que o Supremo Tribunal Federal (STF) assegurou aos homossexuais o direito à união civil, e que respeita a autoridade da Justiça.
“Num estado laico devem ser respeitado todos os brasileiros, nos seus direitos públicos e privados. Essa é uma conquista da sociedade brasileira e que qualquer governante deve defender”, afirmou.