Um grupo de médicos cristãos elaborou um plano de contingência da pandemia de coronavírus para as igrejas evangélicas, com sugestão de medidas a serem adotadas para conter o avanço da doença.
Os médicos André Tsin Chih Chen, Davi Chen Wu, Chin An Lin, Paulo Wan Chin Tsai e Wu Tu Hsing publicaram um artigo em nome da Associação Médica Ágape, que congrega profissionais de saúde cristãos, lembrando que apesar da baixa letalidade do vírus – entre 1 a 3% dos contaminados acaba morrendo – é preciso cautela.
“Pessoas com doenças associadas e idade avançada têm maior chance de desenvolver doença grave”, alertam os médicos cristãos. “Esse plano de contingência foi inicialmente desenvolvido para servir às igrejas de origem étnica oriental (chinesas, japonesas, coreanas entre outras) no Brasil. O contexto são comunidades na cidade de São Paulo e arredores, com frequência de 100 a 300 pessoas por culto, e proporção considerável de pessoas idosas”, acrescenta o artigo, publicado no site da revista Ultimato.
O plano de contingência tem cinco pontos e se aprofunda em detalhes como a celebração da Ceia e visitação às pessoas nos lares, por exemplo, além de incentivar as congregações a recolherem dízimos e ofertas através de meios digitais, como depósitos e transferências, a fim de evitar o contato com cédulas e moedas, amplamente reconhecidos como vetores de doenças.
No primeiro ponto, o plano reitera medidas já apregoadas pelas autoridades públicas na área da saúde: “Recomendamos quarentena de 14 dias para pessoas que viajaram ou tiveram contato com pessoas que voltaram da Ásia, Europa, América do Norte, Oriente Médio e Oceania. Isso significa não comparecer às reuniões por 2 semanas. […] Indivíduos com febre, tosse ou falta de ar OU sintomas respiratórios (gripe ou resfriado comum) devem ficar 14 dias sem frequentar as reuniões da igreja”, aconselham os médicos.
O segundo tópico fala da recomendação dos médicos cristãos fala sobre os cultos com maior presença de fiéis. Nas circunstâncias atuais, as medidas preventivas são avaliadas pelos especialistas como suficientes, mas em caso de avanço do número de contaminados na sociedade em geral, a suspensão dos cultos deve ser discutida.
“Caso a epidemia se agrave em demasia, para preservação do corpo de Cristo, as reuniões grandes de toda igreja podem ser momentaneamente suspensas. O tamanho das reuniões tem a ver com o alcance de caso índice (pessoa portadora do COVID-19) infectar determinada comunidade. Se esse momento chegar, outros formatos de reunião, como reuniões nos lares ou reuniões de pequenos grupos, podem ser adequados para indivíduos saudáveis”, explicam os médicos.
Estágios de contingência são a ideia central no terceiro tópico. A Associação Médica Ágape enfatiza que as recomendações são feitas a partir das “melhores evidências científicas disponíveis no momento”, com uma abordagem pragmática. “A maior parte dos casos ainda se encontra na região costeira. A liderança deve avaliar a aplicabilidade das recomendações para sua localidade, reconhecendo ainda que o acesso a atenção à saúde em nosso país é heterogêneo”, contextualiza o artigo.
Os líderes das igrejas devem incentivar que “pessoas com 80 anos ou mais; pessoas com doenças crônicas com gravidade intermediária ou alta; pessoas com cirurgia recente de médio ou grande porte; pessoas em tratamento com quimioterapia; pessoas com imunossupressão” devem evitar comparecer aos cultos caso a congregação nesse momento, já que o número de casos confirmados no Brasil já chegou a 200.
O quarto ponto trata da visitação aos lares, e os médicos cristãos recomendam que “haja redes intencionais de apoio e cuidado mútuo entre os irmãos da igreja, com contato periódico por telefone ou meios eletrônicos”.
“Deve-se haver atenção especial com os mais idosos, que têm nas reuniões da igreja, momentos preciosos de comunhão e interação social. Recomenda-se visitação nos lares, desde que haja consentimento prévio dos que receberão visita, partindo da premissa de que todos visitadores estejam saudáveis e atentem-se para as recomendações de higiene e prevenção de contato”, destacam os autores do plano de contingência.
O quinto e último ponto fala sobre a possibilidade de desdobramentos mais específicos da fé cristã, como a celebração da Ceia do Senhor: “Deve haver preocupação com a higiene coletiva, sem perder de vista os elementos essenciais do sacramento e o mistério da presença do Senhor”, resumem os médicos cristãos.
“Recomenda-se que cada igreja implemente meios para modernizar seu sistema contábil, possibilitando dízimos e ofertas através de canais eletrônicos (internet banking). As igrejas em que há refeição coletiva devem atentar para recomendações de higiene, incluindo uso de máscara pelos empregados/voluntários na preparação dos alimentos. A quantidade de alimentos também deve ser estimada baseada nas recomendações acima, evitando desperdício”, aconselham.
Por fim, os médicos cristãos da Associação Ágape recomendam uma postura de fé: “Leiam a Bíblia antes de abrir o jornal. A igreja deve ainda orar e discernir as oportunidades de amar em Cristo e testemunhar diante de tempos de tribulação”, conclui o artigo.