A postura do papa Francisco sobre temas caros ao cristianismo, como o aborto, vem sendo censurada pela grande mídia, enquanto sua disposição ao diálogo com o setor progressista da sociedade é usada para promover tal ideologia. Essa é a avaliação feita por um jornalista italiano que cobre o dia a dia do Vaticano.
Sandro Magister, vaticanista que escreve no Settimo Cielo, observou que, quando o pontífice fala em aborto, os veículos de comunicação de grande porte costumam omitir a notícia ou dar pouca visibilidade.
Magister frisou que “cada vez que toca esse tema, Francisco não desfruta de forma alguma de boa imprensa” e acrescentou que o papa “é sistematicamente ignorado” quando se pronuncia contra a interrupção de gravidez.
Recentemente, deputados da Argentina fizeram avançar um projeto de lei de seu presidente, Alberto Fernández, que amplia as possibilidades legais de aborto. Agora, o tema será avaliado pelo Senado do país, com alguma chance de ser rejeitado.
Na repercussão da decisão prévia dos parlamentares, um pastor brasileiro cobrou posicionamento do líder católico sobre o tema.
Pró-vida
Em um livro publicado recentemente, Sonhemos Juntos, o papa se posicionou de maneira inequívoca sobre o assunto: “Não posso ficar calado sobre os mais de 30-40 milhões de nascituros que, segundo os dados da Organização Mundial de Saúde, são descartados todos os anos por meio do aborto. É terrível constatar que, em muitas regiões consideradas desenvolvidas, essa prática é frequentemente incentivada porque os filhos que vão nascer são deficientes ou não foram planejados”, disse o líder católico.
Conforme informações do portal Aleteia, o papa acrescentou que “a vida humana nunca é um fardo”, e que é preciso combater o conceito de que pode ser relativizada: “É preciso dar-lhe espaço e não descartá-la. O aborto é uma grave injustiça. Nunca pode ser uma expressão legítima de autonomia e poder. Se a nossa autonomia exige a morte de outros, então a nossa autonomia nada mais é do que uma jaula de ferro”.
“Costumo me fazer duas perguntas: é justo eliminar uma vida humana para resolver um problema? E é justo contratar um assassino de aluguel para resolver um problema?”, questionou o papa no mesmo livro.
Mídia desonesta
Para Magister, a falta de posicionamento do pontífice sobre a tentativa de legalizar o aborto na Argentina se deve ao fato de Francisco querer distância dos governantes do país: “O papa quer demonstrar que se preocupa em ir até o fundo das questões e em falar diretamente ao mundo, sem se envolver na luta política, especialmente na política argentina”.
“Em particular, para Bergoglio, é urgente evidenciar o seu duplo distanciamento: da ex-presidente peronista Cristina Fernandez de Kirchner, com quem diz que ‘não tem nenhum contato’ desde que deixou o cargo, e de Juan Grabois, organizador de primeiro nível dos ‘movimentos populares’ tão amados pelo Papa e a quem ele nomeou assessor do dicastério vaticano para o serviço do desenvolvimento humano integral. A razão desse distanciamento é que tanto uma quanto o outro nos fazem crer que são mais próximos do Papa e mais amigos dele do que realmente são”, concluiu o jornalista.