A exploração espacial é um dos grandes desafios para a humanidade, sendo encarada como algo que poderá permitir a continuidade da espécie humana no futuro. Mas, para uma professora de Religião e Ciência na Sociedade, da Wesleyan University, missões como a Artemis 2, que pretende levar o homem de volta à Lua, vão muito além da questão puramente material.
Mary-Jane Rubenstein acredita que o desejo de conquistar o Espaço tem como pano de fundo um novo tipo de “religião”, a qual estaria relacionada às ambições dos exploradores e investidores bilionários como Ellon Musk e Jeff Bezos.
Autora do livro Astrotopia: a religião perigosa da corrida espacial corporativa, Mary argumenta que a religiosidade implícita na exploração espacial, mediante missões como Artemis 2, estaria associada a um antigo modelo de colonialismo, cujo objetivo remonta à falsa ideia de que Deus estaria desejando privilegiar uma determinada classe de indivíduos.
No livro, ela dique expõe “a herança claramente religiosa do colonialismo e os restos do tipo de pensamento que encontramos em Pence e Trump [ex-vice e ex-presidentes dos Estados Unidos] quando dizem que Deus quer que façamos isso para conquistar o cosmos.”
“Mas isso não é o lugar mais interessante que a religião está aparecendo neste momento. O lugar mais interessante”, diz ela, estaria na “proclamação de que ‘o mundo está chegando ao fim.’ Eles nos oferecem uma lógica messiânica clássica de desastre iminente, por um lado, e salvação eterna, por outro”.
Messianismo cósmico?
Mary, por fim, dá a entender em sua entrevista para Samuel Sigal, no Vox, que o protagonismo de figuras com Bezos e Musk na corrida espacial, chamando atenção para a visão futurista de uma possível colonização humana de planetas como Marte, seria o centro dessa nova “religiosidade”.
“O locus da operação religiosa mudou da Igreja para esses messias privados”, diz ela. “Os messias privados falam em nome de qualquer religião reconhecida — a lógica afirma ser totalmente secular. Mas na verdade se parece muito com a lógica cristã que diz que o sofrimento na Terra é justificado porque haverá redenção em outro mundo.”