Uma igreja conquistou o reconhecimento formal das autoridades do Egito, e a decisão irritou grupos de muçulmanos, que atacaram e danificaram as casas dos fiéis, assim como seus carros e até lojas, nos casos dos crentes que atuam como comerciantes.
O relato sobre os ataques foi feito pela entidade de monitoramento da perseguição religiosa International Christian Concern (ICC). O reconhecimento da Igreja do Arcanjo Miguel, ligada à tradição dos cristãos copta, foi originalmente erguida em 2003 e esperava, desde então, a documentação para atuar legalmente.
Segundo os relatos, multidões muçulmanas arremessaram pedras pelas janelas das casas e incendiaram prédios e veículos, apesar da presença de seguranças destacados na área para proteger a igreja.
“Ao longo do processo, os muçulmanos da área rejeitaram a legitimidade da nova igreja, afirmando que a construção ou restauração de uma igreja contradiz a lei islâmica. ‘As Condições de Omar’, que se pensa terem sido escritas pelo califa Omar I, é um texto islâmico a que se referem. O texto dita que nenhuma igreja deve ser construída ou reparada, e que os cristãos devem se contentar apenas com igrejas pré-existentes”, diz um comunicado da ICC, contextualizando a situação e os argumentos dos radicais muçulmanos.
De acordo com informações do portal The Christian Post, um Comitê para a Legalização de Igrejas não Licenciadas foi formado em janeiro de 2017, composto pelos ministros da justiça, assuntos parlamentares e desenvolvimento local e habitação do governo do Egito.
Além dessas autoridades, o comitê conta também com representantes de autoridades locais e comunidades cristãs. Desde sua criação, o órgão legalizou mais de 1.600 igrejas no território do país de muçulmana.
No entanto, a oposição às igrejas pelos muçulmanos locais permanece. Os cristãos copta, que representam cerca de 10% da população do Egito, são descendentes de uma longa linhagem de antigos egípcios que mais tarde se converteram ao cristianismo no início do primeiro século, época da Igreja Primitiva.
De acordo com o monitoramento da perseguição religiosa feito pela Missão Portas Abertas dos EUA, o Egito está entre os 20 piores perseguidores de cristãos no mundo.
Incidentes de perseguição cristã no Egito variam desde mulheres cristãs sendo assediadas enquanto caminham na rua, até a casos de comunidades cristãs sendo expulsas de suas casas por multidões extremistas.
O relatório da Portas Abertas indica que, no Egito, os cristãos são normalmente tratados como cidadãos de segunda classe. O governo do país adota discurso positivo sobre a comunidade cristã egípcia, mas a falta de aplicação séria da lei e a falta de vontade das autoridades locais em proteger os cristãos os deixam vulneráveis a todos os tipos de ataques, especialmente na região do Alto Egito.
“Devido à natureza ditatorial do regime, nem os líderes da igreja nem outros cristãos estão em posição de se manifestar contra essas práticas”, observa a Portas Abertas, acrescentando que igrejas e organizações não governamentais cristãs são restritas em sua capacidade de construir novas igrejas ou executar serviços sociais: “As dificuldades vêm tanto das restrições estatais quanto da hostilidade comunitária e da violência da multidão”.