O aborto é um dos traumas mais profundos que uma mulher pode atravessar, física, espiritual e psicologicamente. Para a criança que sofre a tentativa de aborto, então, às consequências emocionais podem ser irreparáveis. Este é o caso de Melissa Ohden, atualmente com 41 anos. Ela contou o seu testemunho para a rede BBC e como lida com isso até hoje.
“Eu deveria ter nascido morta. Em vez disso, eu nasci viva”, disse ela, lembrando do método que a sua mãe, na época com apenas 19 anos, utilizou para tentar lhe matar:
“Era estudante universitária”, disse ela sobre a mãe. “[Ela] fez um aborto por infusão de solução salina. E esse tipo de procedimento foi feito para me envenenar e queimar o meu corpo até a morte. Por fim, uma enfermeira me levou correndo para a unidade de terapia intensiva neonatal, onde os cuidados médicos salvaram minha vida”.
Daquele momento em diante a mãe de Melissa não soube mais do paradeiro da filha. Na verdade, ela achou que havia conseguido abortar, e não procurou mais saber sobre o seu caso.
“Minha mãe biológica passou mais de 30 anos acreditando que eu tinha morrido naquele dia, no hospital. Ela não foi informada de que eu sobrevivi. Esse segredo foi escondido dela. Fui colocada para adoção sem que ela soubesse. Ela nunca soube nem se estava grávida de um garotinho ou uma garotinha”, explica Melissa.
Melissa Ohden explicou também que, na verdade, a sua mãe não queria abortá-la. Ela foi obrigada, por sua vez, pela mãe, que trabalhava no hospital onde a filha teve o parto. Melissa só ficou sabendo dessa história aos 14 anos, quando seus pais adotivos lhe contaram o que havia acontecido.
A história completa de Melissa foi contada no documentário “You Carried Me: Memórias de uma filha”, onde ela relata o momento que reencontrou a sua mãe, três décadas depois do seu nascimento. As duas moram atualmente em Kansas City e se vêem com frequência.
“Ela viveu com um arrependimento e mágoa gigantescos. Então, começamos a nos comunicar por e-mail há cinco anos e compartilhamos informações, construímos laços de confiança e amor uma com a outra antes de nos encontrarmos face a face pela primeira vez, anos atrás e continuamos nos vendo até hoje”, disse Melissa.
Melissa explica que apesar do seu sofrimento, não deixou de reconhecer a dor da sua mãe ao ter que conviver com o seu passado. Mas, agora juntas, ela diz que o reencontro está proporcionando a alegria necessária para consolar seus corações:
“Eu nunca esquecerei do dia em que a conheci e de ver sua dor. Sua dor me assombrou por um longo tempo depois disso, mas agora eu também tenho a experiência de ver sua alegria”, disse ela. “Eu não acredito que Deus originalmente escreveu aborto em minha história, porque Deus é o Criador da vida.
Em 2002 Melissa fundou a Rede de Sobreviventes ao Aborto (ASN), onde procura conscientizar outras mães sobre a realidade do aborto. Com informações: Guiame.