Mais uma vez a Netflix é alvo de queixas e críticas do público cristão por conta do conteúdo de uma de suas produções originais. Agora, a série Insatiable (“insaciável”, em tradução livre), virou alvo de uma petição online que pede o cancelamento do programa.
A série é acusada de atacar a fé cristã repetidamente, e a petição online visa alcançar 300 mil assinaturas. Até o fechamento desta matéria, 234 mil pessoas já havia endossado o movimento na plataforma Change.org.
Voltada ao público adolescente, a série teve 12 episódios na primeira temporada, e foi acusada de promover “todos os tipos de exploração de identidade sexual e de gênero entre menores e adultos, para questões liberais como o aborto”, além de associar o nome de Jesus a atos sexuais, segundo uma análise do portal News Busters, do Centro de Pesquisa de Mídia dos Estados Unidos.
Classificada como “imprópria para menores de 17 anos”, a série tem a personagem Patty Bladell (interpretada pela atriz Debby Ryan, ex-Disney) como centro, em busca de vingança após emagrecer 30 kg e ambicionar um concurso de beleza chamado “Miss Magic Jesus”, que dá à vencedora uma “coroa de espinhos”.
Parte da história envolve um vídeo de sexo entre a protagonista e o filho adolescente de seu pastor, no interior de um brinquedo alusivo à Arca de Noé. A reação do pastor é reunir a família da jovem para sugerir a congregação não poderia ter uma “adolescente grávida solteira” participando do concurso “Miss Magic Jesus”. Em resposta, a jovem afirma que o pastor não deveria se preocupar, pois ela faria um aborto.
Segundo informações do portal The Christian Post, o enredo da série é acompanhado de histórias paralelas com foco LGBT, incluindo um personagem transexual que se apaixona pela protagonista, a beija, depois também se envolve com um menino e termina por iniciar um relacionamento com uma das candidatas do concurso que a havia agredido.
Em um dos episódios, a série faz referências a Jesus e ao Espírito Santo em um contexto de sexualidade. Esse capítulo foi descrito pelo News Busters como “a cena mais ofensiva de todo o programa”.
A crítica citou um trecho de uma música que é interpretada durante o concurso: “Nós vamos viajar juntos, com sua mão no meu coração. Seja qual for o clima, um amor tão forte. Tanto tempo. Tão difícil. Oh, Jesus, você me preenche de todas as maneiras. Doce, doce Jesus dentro de mim, eu te entendo profundamente em minha alma. Profundo, profundo e profundo em minha alma. Sim! Oh, Espírito, por favor monte sobre mim. Por favor, por favor, por favor, me acompanhe. Profundo, profundo e profundo em minha alma”, diz a letra, de duplo sentido.
“Oh, Espírito, por favor monte sobre mim. Por favor, por favor, por favor, me acompanhe. Profundo, profundo, profundo no meu Ooooh! Pai. Eu acho que te amo”, diz outro trecho da música.
“Pedir ao Espírito Santo que ‘por favor me acompanhe… Profundamente, profundamente, no meu ooooh! Meu Pai’, enquanto faz movimentos sexuais e giros. O que é que isso deveria significar, além da óbvia sexualidade?”, questiona o News Busters.
“E ter jovens adolescentes implorando a Jesus e ao Espírito Santo que façam sexo com elas é definitivamente chocante e completamente repugnante”, acrescenta a crítica do portal.
A petição online argumenta que a Netflix deve cancelar a série porque o bullying “perpetua não só a toxicidade da cultura da dieta, mas a objetificação do corpo das mulheres”, além de pontuar que há piadas “sobre sexualidade, raça e molestamento”.
A criadora do programa, Lauren Gussis, se defendeu das críticas em entrevista ao Chicago Tribune, dizendo que o roteiro foi baseado em experiências próprias de intimidação na escola e problemas com excessos e imagem corporal.
“A série é muito sobre querer que as coisas sejam diferentes, e então em um segundo elas são diferentes e aí você quer que elas sejam diferentes de novo. Então eu acho que para mim, parte do meu trabalho espiritualmente é amar o que isso é […] Eu escolho amar exatamente como isso é, porque me trouxe a este lugar neste dia, que é exatamente onde eu preciso estar”, alegou a roteirista.
Chacota recorrente
Essa não é a primeira vez que uma produção original da Netflix motiva protesto de cristãos. A plataforma de streaming de vídeos costuma, com frequência, alfinetar a fé cristã em suas produções. Em algumas delas, o assunto preferido é o estereótipo de que igrejas são uma comunidade formada por hipocrisias e escândalos sexuais.
Greenleaf é uma série que constrói sua trama em cima de adultérios, homossexualidade, sexo no templo ao lado da Bíblia, estupro de adolescentes e desvio de dinheiro. O roteiro se resume, basicamente, em mostrar a comunidade evangélica como uma enorme hipocrisia.
Já em The Get Down (2016-2017), que contou a história do surgimento do hip-hop nos anos 1970, um pastor pentecostal é mostrado como um radical religioso, que não permitia que a filha cantasse músicas seculares e a agrediu antes de expulsá-la de casa por esse motivo.
Em agosto, a empresa anunciou outra série que promete causar polêmica: American Jesus. O roteiro fala de um menino que descobre ser a reencarnação de Jesus após operar milagres. O programa nasceu de uma história em quadrinhos homônima de autoria do escocês Mark Millar, um dos principais quadrinistas da atualidade, com trabalhos para editoras como Marvel e DC Comics.
Originalmente, a história foi publicada em 2004 nos Estados Unidos pela editora MIllarworld, fundada pelo próprio Mark Millar, que vendeu a empresa para a Netflix em 2017. A empresa agora investe na produção de séries e filmes a partir de seu catálogo.