O astrônomo suíço Michel Mayor, declarado vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2019 por suas contribuições à pesquisa científica e astronômica, afirmou que “não há lugar para Deus no universo”.
Mayor, que descobriu o primeiro exoplaneta em 1994 e revelou sua descoberta no ano seguinte, concedeu uma entrevista falando sobre sua forte crença de que existe vida fora da Terra, mas que os humanos não serão capazes de visitar esses planetas habitáveis, por conta da distância.
Entrevistado pelo jornalista Nuño Domínguez, do jornal progressista espanhol El País, o astrônomo afirmou que os “fatos científicos” desmentem a religião: “A visão religiosa diz que Deus decidiu que houvesse vida apenas aqui, na Terra, e a criou. Os fatos científicos dizem que a vida é um processo natural. Acredito que a única resposta é investigar e encontrar a resposta, mas para mim não há lugar para Deus no universo”, declarou o vencedor do Nobel da Paz.
Confira outros pontos da entrevista do astrônomo:
A Real Academia de Ciências da Suécia concede-lhe o prêmio por mostrar “o lugar que a Terra ocupa no cosmos”. Que lugar é esse?
As estatísticas dizem que há bilhões de planetas em nossa galáxia, a Via Láctea. Muitos são como a Terra. Parte deles está na distância exata de sua estrela para que haja uma temperatura adequada e ocorra a química complexa necessária para que surja a vida. Com base nisso, as probabilidades de que haja vida no universo são descomunais. Agora o importante é procurar os exoplanetas que estão mais perto de nós para que possamos captar mais fótons e analisar a química de sua atmosfera.
Encontraremos vida nesses planetas?
Pelo menos sabemos como fazer isso. Podemos detectar os biomarcadores na atmosfera que demonstram que há vida neles. Mas não temos os instrumentos para analisar a luz do planeta, algo muito complicado, porque sempre há uma enorme quantidade de luz emitida pela estrela e é difícil separá-las. Estou convencido de que existe vida em muitos lugares do universo.
Os planetas extrassolares, mesmo aqueles considerados habitáveis porque podem conter água líquida, são ambientes muito expostos à radiação estelar…
Podem ser formas de vida mais simples do que nós. Os elementos químicos são sempre os mesmos, mas há muitas possibilidades de diversidade. Pense, por exemplo, na Terra, no quanto os animais que vivem sobre a terra são diferentes dos que estão no oceano, ou em um deserto, ou em uma floresta… Como é realmente a vida em outros planetas? É uma questão preciosa e enorme para a próxima geração.
Qual é a possibilidade de que alguns desses milhares de planetas com vida sejam Terras como a nossa?
Encontrar vida evoluída, uma civilização, é uma pergunta completamente diferente. É muito mais difícil, por enquanto não é possível responder. Posso passar o resto da minha vida feliz tentando responder apenas à pergunta sobre se há vida além da Terra.
O primeiro exoplaneta que você descobriu estava a 50 anos-luz e é um gigante gasoso, como Júpiter. O exoplaneta terrestre mais próximo da Terra, o Proxima b, descoberto em 2016, está a 4,5 anos luz. Algum dia será possível explorar algum desses mundos?
Nunca poderemos ir. Os humanos demoram três dias para viajar até a Lua. A luz só precisou de um segundo. Imagine um planeta a 12 anos-luz. A luz demora um bilhão de segundos para chegar. Multiplique três dias por um bilhão, é muito tempo. É uma fantasia pensar que podemos ir até lá. Existe um projeto para enviar minissatélites para Proxima b, acelerados com laser até quase a velocidade da luz. É muito difícil, mas mesmo que dê, um artefato a essa velocidade que passe durante uma fração de segundo ao lado do planeta não poderá captar nada interessante. Não aprenderemos nada! Nossa única opção é desenvolver métodos de detecção remota baseados na química.