A Seleção Brasileira de Futebol venceu a Alemanha na final das Olimpíadas do Rio de Janeiro e conquistou a medalha de ouro, a única que restava na galeria do principal esporte do país. E na comemoração, o capitão do time, Neymar, voltou a usar a faixa “100% Jesus”, tradicional em suas conquistas.
O jogo contra os alemães trazia consigo as lembranças da semifinal da Copa do Mundo 2014, jogada no Mineirão e com vitória dos adversários pelo humilhante placar de 7 x 1. Porém, a final olímpica não se pareceu em nada com a partida de dois anos atrás, e após 120 minutos de disputa, terminou empatado em 1 x 1.
Na cobrança de pênaltis para o desempate, coube a Neymar fazer a última cobrança, após o goleiro brasileiro, Weverton, ter defendido o tiro do alemão Nils Petersen. O capitão da Seleção, que havia sido medalha de prata em Londres, não decepcionou e encerrou a série de cobranças, conquistando o ouro para o Brasil.
O goleiro, aliás, comentou a defesa e a conquista da sonhada medalha de ouro nas Olimpíadas: “Deus me abençoou. Pátria amada, o ouro é nosso mas a glória é de Deus. O Neymar falou que Deus tinha dado uma segunda chance pra ele, que tinha sido prata em Londres. Deus ama ele, assim como ama todos”, disse Weverton em entrevista ao SporTV.
100% Jesus
Neymar tem por hábito usar a faixa com o nome de Jesus durante as comemorações de todas as suas conquistas. Foi assim quando venceu a Copa Libertadores, em 2011, e quando venceu o Campeonato Espanhol e a Liga dos Campeões pelo Barcelona, em 2015, por exemplo.
A atitude do jogador brasileiro não agrada à FIFA, que é avessa a demonstrações religiosas em suas competições. Na cerimônia de premiação dos Melhores do Mundo em 2015, a entidade mostrou um vídeo com a conquista continental do Barcelona e, na ocasião, censurou a expressão religiosa do jogador, apagando a mensagem. As críticas à atitude foram intensas e prolongadas.
“O jogador é evangélico e, desde menino, costuma utilizar essa mesma faixa para agradecer a Jesus Cristo. Neymar sentiu na pele a força da intolerância religiosa. Uma coisa é usar a faixa nas categorias de base, no Santos. O Brasil é um país laico, que aceita todas as crenças. É comum, por aqui, um judeu ser amigo de um palestino. Um espírita estar casado com uma umbandista. Há a tolerância. Crimes praticados em nome de religião são raríssimos”, comentou à época o jornalista Cosme Rímoli, do portal R7.
A decisão da FIFA em censurar o jogador foi uma atitude de pressão, indiretamente apoiada pelo Barcelona e pela Nike, empresa fornecedora de materiais esportivos que paga caro para estampar sua logomarca nos uniformes da equipe.
Em dezembro de 2015, o Barcelona venceu o River Plate na final do Mundial de Clubes, no Japão, e na ocasião o jogador não usou a faixa com a mensagem de fé. Ao invés disso, exibiu uma com a marca da Nike. A pressão havia dado resultado.
No entanto, Neymar aguardou em silêncio para dar sua resposta na primeira oportunidade. Venceu as Olimpíadas, contra um adversário de peso, e não hesitou: peitou a censura da FIFA e contou até com certa generosidade da Olympic Broadcasting Services (OBS), empresa criada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para a transmissão dos jogos. A transmissão, ao vivo para todo o planeta, não fez cortes para evitar que o capitão do time vencedor não aparecesse durante a cerimônia de premiação após a partida. A mensagem “100% Jesus” foi novamente mostrada a todos por Neymar.
“Nossa, eu tenho muita coisa para falar, mas não encontrei palavras. Prefiro falar só quando estiver com o coração mais calmo”, disse Neymar, antes de ser provocado pelo repórter: “Fala o que você sentir vontade”. E o jogador, repetindo uma declaração do ex-técnico Zagallo, em 1997, disse: “No começo da competição, fomos muito criticados e nós respondemos com futebol e fizemos isso hoje. Foi uma das coisas mais felizes que já aconteceram na minha vida, to muito feliz. Agora vão ter que me engolir”, afirmou, preferindo ater-se às questões esportivas.
O pai do jogador, também Neymar, publicou uma mensagem de apoio ao filho antes do jogo: “Sonho e Fé. Para você, filho, sempre foram a mesma coisa… Hoje você pode realizar um sonho usando o nome em quem sempre teve fé (Jesus Cristo)”.
Assim, além dos dribles em campo, o atacante dribla também o preconceito religioso e a censura, falando sobre o que crê e agradecendo a quem o ofereceu uma segunda chance no esporte e na vida.
Confira os melhores momentos da partida no vídeo abaixo: