Um pastor vem enfrentando um longo entrevero com as autoridades da Argélia por conta de uma livraria que funciona junto com uma igreja. No capítulo mais recente do atrito, ele foi condenado, junto com o dono da loja, a dois anos de prisão por uma lei que pune a venda ou distribuição de material “que vise minar a fé de um muçulmano”.
O pastor Rachid Seighir e o dono da livraria, Nouh Hamimi, foram acusados de atuar para enfraquecer a fé dos muçulmanos por venderem livros cristãos. Cada um deles foi condenado a dois anos de prisão mais multa de US$ 3.745, que equivalem a R$ 20,9 mil na cotação atual.
A notificação da acusação de “distribuição de publicações ou qualquer outra propaganda que enfraquece a fé de um muçulmano” foi feita por escrito, mas colocada por baixo da porta da Igreja Oratoire, onde Richard Seighir é pastor e Hamimi é membro.
A igreja está situada na cidade de Oran, localizada na costa da Argélia, a 431 km de distância da capital, Argel. O país africano é ranqueado pela Missão Portas Abertas como o 24° mais hostil aos cristãos, de um total de 50 considerados como local de adversidade severa aos fiéis a Jesus.
Contexto
Em 2006 foi promulgada uma lei na Argélia regulamentando o culto não-muçulmano. No texto, é considerado crime a publicação de livros, folhetos e outros materiais que as autoridades entendam como um risco à fé muçulmana, que é majoritária no país.
De acordo com informações do portal Morning Star News, o pastor Seighir declarou estar sendo alvo de uma retaliação pelo conflito que acontece desde 2008 por causa da livraria na igreja. Neste mesmo ano, o pastor já tinha sido condenado pelas mesmas acusações e absolvido posteriormente, quando apresentou recurso.
Em 2017, o governador de Oran ordenou o fechamento da livraria, mas no ano seguinte um tribunal decidiu que a determinação era inválida devido a problemas processuais. Ainda assim, as autoridades locais mantiveram a livraria fechada.
Em maio de 2019, a Igreja Oratoire venceu um processo na Justiça para manter a livraria aberta, e novamente o governador se recusou a cumprir a sentença, mantendo o estabelecimento fechado.
“Continuando nossa luta, pedimos a intervenção do tribunal administrativo”, explicou o pastor sobre a situação. “O julgamento chegou em 13 de outubro de 2019 ordenando a retirada dos lacres e a reabertura da livraria, com compensação financeira de 500 dinares (equivalente a U$S 3.745). Infelizmente, o governador não cumpriu a ordem da justiça e a livraria permaneceu fechada. Quatro anos de fechamento”, acrescentou Rachid Seighir.
Embora a maioria seja muçulmana e o islamismo seja a religião oficial da Argélia, desde o ano 2000 o país tem experimentado um crescimento no número de argelinos que abandonam a religião estatal e se entregam a Jesus Cristo. As estimativas da Portas Abertas são de que existam 129 mil cristãos no país africano.