A liderança do projeto Missão na Íntegra divulgou, há alguns dias, um manifesto que foi entendido pela ampla maioria da comunidade evangélica como uma crítica às investigações da Operação Lava-Jato e uma defesa do Partido dos Trabalhadores.
O texto, com os nomes de mais 2500 líderes evangélicos que subscrevem junto ao pastor Ariovaldo Ramos, elenca preocupações com os “momentos de aflição, angústia e ódio” que assolam muitos brasileiros, e diz que “a ausência de serenidade e cautela, nesta hora crítica, tem despertado muita preocupação e tememos que o acirramento provocado venha custar vidas humanas”.
Os signatários do documento dizem rejeitar “toda indignação pecaminosa que suplante o ordenamento jurídico, que aja com parcialidade e dissemine o ódio e o desejo de vingança entre os brasileiros”. Sem mencionar diretamente a Operação Lava-Jato, que tem trazido luz ao obscuro submundo da política brasileira, o manifesto acusa as investigações de adulteração dos “ritos necessários para o juízo legal […] para atender ao clamor público”.
Toda essa grita, surpreendente, contra as investigações se deu após os recentes insucessos de Lula (PT), que foi obrigado a prestar depoimento, flagrado em gravações diversas tramando sua nomeação a um ministério de Estado para, no cargo, escapar de um mandado de prisão, e posteriormente, impedido de tomar posse.
Ariovaldo Ramos, no Twitter, foi mais enfático em suas críticas e referiu-se ao juiz da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, Sérgio Moro, como “fofoqueiro”.
Aviso aos navegantes: juiz ñ pode desfilar de toga em passarela e nem ser fofoqueiro!#ESTADODIREITOJA
— ariovaldo (@ariovaldo) 18 de março de 2016
O descontentamento e a onda de críticas aos pastores que integram o manifesto se espalhou pela internet. Entre os inconformados com a postura dos teólogos da Missão Integral em defesa de um partido que virou sinônimo de corrupção, o pastor Renato Vargens publicou um ponderado artigo em seu blog sobre o assunto.
“Os adeptos da TMI manifestaram-se a favor do PT e contra o impeachment de Dilma num documento defendendo o ‘Estado Democrático de Direito’. Triste ver que os conceitos dos que assinaram o documento estão fundamentados numa ideologia política que fecha os olhos para a corrupção promovida por um partido que sucateou a nação. Lamento profundamente constatar que o documento não condena o maior sistema de corrupção descoberto em nossa história, e que de forma velada manifesta-se a favor da permanência no poder de um partido que lesou o Brasil em bilhões de reais”, comentou Vargens, que é líder da Igreja Cristã da Aliança.
O pastor acrescentou que o documento é “parcial, ideológico, tendencioso”, e “ao contrário do que seus proponentes afirmam, não é profético e sim desprovido de compromisso com a verdade e justiça”.
Ao final, destacou que essa postura não é unanimidade entre os adeptos da teologia da Missão Integral: “Muitos discordaram e rechaçaram o manifesto pró-governo elaborado pelo Missão na Integra, o que nos leva a certeza de que a defesa de Dilma, Lula e o PT não é unanimidade entre os defensores da Missão Integral”, concluiu.