Ariovaldo Ramos, 62 anos, principal ícone da Teologia da Missão Integral (TMI) no Brasil, alcançou um novo status: agora, é definido pela grande mídia como “pastor lulista”. E nessa condição, o líder evangélico “progressista” quer formar uma “bancada evangélica do bem”, como define os militantes alinhados à sua visão política.
O pastor da igreja Comunidade Cristã Reformada concedeu uma entrevista em que critica abertamente a bancada evangélica no Congresso Nacional, definindo-a como “lamentável, para ser bondoso, porque fez todas as escolhas possíveis contra pobre, minorias, mulher, trabalhador”.
À jornalista Anna Virginia Balloussier, da Folha de S. Paulo, Ariovaldo garante que vem trabalhando para construir um movimento no meio evangélico que se oponha ao conservadorismo. “É para diferenciar da frente evangélica”, ressaltou, referindo-se à sua Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, que, segundo ele, estaria presente em 20 estados reunindo 10 mil membros.
Sobre os políticos que atualmente empunham a bandeira de oposição à esquerda, como os pastores Marco Feliciano (Podemos-SP) e Magno Malta (PR-ES), Ariovaldo acusa de formarem um grupo político que estaria tentando “impor o moralismo fundamentalista sobre a nação, fazer uma ruptura com o Estado laico”.
Minorias
Em sua coluna na Mídia Ninja, Ariovaldo publicou um artigo intitulado “Pobre Elite Branca”, em que rebate os argumentos do jurista Ives Gandra da Silva Martins sobre a construção de uma legislação validadora de privilégios às minorias.
O texto de Ives Gandra diz: “Tenho eu a impressão de que no Brasil o ‘cidadão comum e branco’ é agressivamente discriminado […] pela legislação infraconstitucional, a favor de outros cidadãos, desde que eles sejam índios, afrodescendentes, sem terra, homossexuais ou se autodeclarem pertencentes a minorias submetidas a possíveis preconceitos”.
Para Ariovaldo Ramos, essa comprensão dos fatos é absurda. No artigo-resposta, o pastor diz que o jurista “não quer entender” o contexto das bandeiras levantadas pela esquerda: “Graças à injustiça que há no Brasil, ele e a classe que ele representa é que vivem com a dignidade e qualidade que todo cidadão deveria viver”, escreveu, perpetuando o tão caro conceito comunista da luta de classes.
“O papel da igreja é ser a consciência do Estado, não almejar poder”, afirmou o pastor. “Queremos uma bancada do bem, porque a do mal, já estamos cansados dela”, acrescentou, numa frase que poderia facilmente ser aplicada ao movimento político que ele defende, responsável pela crise econômica do país e por escândalos de corrupção em escala inédita.
Na entrevista à Folha, porém, o pastor resguardou de seu ímpeto ideológico a teologia. Questionado se apoia o movimento LGBT, pontuou que a comunidade formada por homossexuais, transexuais e afins “deve ser respeitada em suas escolhas, mas não tem direito de influenciar a teologia”, pois a Bíblia é “muito clara ao dizer que há dois gêneros”, masculino e feminino.