A praga rogada por Valdemiro Santiago contra o jornalista Marcelo Rezende e enaltecida pelo líder da Igreja Mundial do Poder de Deus em seu programa de TV repercutiu de forma negativa entre os evangélicos. O pastor e escritor Renato Vargens produziu um artigo lamentando a postura do autointitulado apóstolo.
Vargens lidera a Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ), e produz artigos em seu blog sobre o universo cristão/evangélico brasileiro. No artigo sobre a mais nova polêmica de Valdemiro Santiago, destacou que os “apóstolos verdadeiros ensinavam o perdão aos adversários”.
“Ontem eu fui surpreendido por um vídeo onde um ‘apóstolo’ afirmou que o câncer que sobreveio a um jornalista se deveu a uma maldição por ele enviada […] Era o que faltava, crentes em Jesus absortos em ódio proferindo pragas evangélicas contra aqueles que deles discordam”, comentou.
Ciente de que o raciocínio de amaldiçoar adversários é uma cultura arraigada em parte do meio evangélico – como no caso do também autointitulado apóstolo Agenor Duque -, Vargens observou que “infelizmente não são poucos os líderes que ao se sentirem incomodados com os questionamentos doutrinários, amaldiçoam os que lhes questionam”.
“Em nome de Deus, tais pessoas rogam ‘pragas e desgraças’ para aqueles que em algum momento da vida se contrapuseram a seus desejos e vontades. É nesta perspectiva que tem emergido em nossas comunidades o toma-la-dá-cá evangélico. Basta, por exemplo, alguém cogitar mudar de igreja que lá vem maldição”, contextualizou.
Aprofundando sua reflexão, Renato Vargens lembra que “em certas igrejas, discordar do ensino do pastor significa ‘tocar no ungido do Senhor’, e quem o faz, comete rebeldia”, e acrescenta: A palavra ‘rebeldia’ tem sido usada para todo aquele que foge dos caprichos fúteis de uma liderança enfatuada”.
Essas práticas de amaldiçoar adversários é uma distorção da Palavra de Deus: “Os adeptos da maldição partem do pressuposto que o pastor, em nome de Deus, tem o poder de amaldiçoar outras pessoas através da oração positiva e determinante”, constatou. “Em outras palavras, os caras ensinam que o pastor pode rogar ao Senhor da glória o aparecimento de desgraças e frustrações na vida de seus desafetos, determinando assim a desventura alheia […] Isso não é, não foi e nunca será o evangelho de Cristo”.
“À luz das Escrituras não tenho a menor dúvida em afirmar que comportamentos como estes afrontam os ensinos de Jesus e dos apóstolos. Todavia, a igreja evangélica devido a ignorância bíblica e teológica, dá ouvidos a apedeutas da fé mergulhando assim no buraco da sincretização, deixando pra trás valores, virtudes e princípios”, lamentou.
Por fim, o pastor destacou conceitos presentes no Evangelho que se opõem à roga de pragas tão em moda ultimamente em setores evangélicos: “As maldições proferidas pelos adeptos da teologia da vingança afrontam de forma efetiva os ensinos das Escrituras. ‘Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus’ (Mateus 5:44). Bem diferente do ensino de Valdemiro”, concluiu.