O desfile da escola de samba Gaviões da Fiel, no último domingo em São Paulo, despertou a indignação de muitos cristãos que também são torcedores do time Corinthians, entre eles o pastor Efraim Ferreira.
Morador da cidade de Munhuaçu, leste de Minas Gerais, Ferreira resolveu gravar um vídeo onde aparece fazendo um desabafo contra a direção do time pelo qual torce desde 1970, mas que agora deseja a sua derrota em todos os jogos.
“Vocês zombaram do meu Salvador que é Jesus”, disse o pastor. “Então a partir de hoje eu torço para o Corinthians perder todos os jogos. Não vou torcer para nenhum time de São Paulo”.
“Vocês não podem mexer com a minha fé, eu não dou direito de vocês brincar com a minha fé, zombar da minha fé, então está aqui o meu repúdio contra esse time contra essa diretoria”, disse ele, que em seguida ateou fogo na bandeira do seu ex-time.
A revolta do pastor Ferreira foi motivada porque a escola de samba Gaviões da Fiel apresentou um enredo, onde a figura de Jesus Cristo aparece sendo derrotada pelo diabo e seus demônios.
A Bancada Evangélica no Congresso, por exemplo, disse que iria tomar “todas as medidas cabíveis” contra a Gaviões, alegando que o enredo da escola não foi arte, mas sim “um crime” contra a população cristã.
Posição da ANAJURE
A Associação Nacional de Juristas Evangélicos, no entanto, emitiu uma nota à imprensa nesta quinta-feira (7), onde se posiciona a respeito da polêmica envolvendo a Gaviões da Fiel. Para os juristas, a escola de samba não cometeu qualquer ilegalidade.
“Por todo o exposto, após análise minuciosa do desfile da ‘Gaviões da Fiel’ no carnaval 2019 em São Paulo, a assessoria jurídica da ANAJURE conclui que, data máxima vênia, a nosso juízo, não houve atos ilícitos por parte da comissão de frente daquela agremiação”, diz o texto.
Os juristas ainda explicam que não houve crime “nem mesmo aqueles tipificados nos art. 20, da Lei n. 7.716/89[1] e no art. 208, do Código Penal[2], do mesmo modo que a apresentação não enseja danos morais ou materiais”.
A ANAJURE justifica que o enredo da gaviões está, de fato, dentro dos limites da liberdade de expressão artística, mas fez ponderações quanto ao bom senso e formas mais respeitosas de exercer esse direito.
“Destarte, inobstante o fato de alguns terem considerado afrontosa e agressiva a exibição – e, nessa senda, concordamos que há maneiras mais ponderadas e respeitosas, dentro de critérios mínimos de convivência pacífica e tolerância, de trazer questões religiosas ao debate público, mesmo quando se pretende criticar”, conclui a nota.
Assista o vídeo do protesto do pastor Ferreira: