As desconfianças contra a vacina da covid-19 são universais, mas pastores têm tratado de amenizar essa percepção para garantir que fiéis não resistam à imunização. Uma reportagem internacional mostra que o sentimento de insegurança está presente em todas as partes.
Um dos pastores retratados pelo jornal The New York Times é Gabriel Salguero, que atua na igreja Gathering Place, em Orlando, Flórida (EUA). Recentemente, ele dedicou um sermão a aplicar o medo dos fiéis de sua congregação, de maioria latina, quanto à vacina.
A parábola do bom samaritano foi usada como forma de lembrar que a pandemia atinge a todos: “Ao se vacinar, você está ajudando seu próximo. Deus quer que você esteja inteiro para que você possa cuidar da sua comunidade. Então, pense nas vacinas como parte do plano de Deus”.
No mundo todo há problemas com a disponibilidade das vacinas, além do fato que, inicialmente, não havia a informação de que seriam necessárias duas doses para a proteção contra o novo coronavírus.
Junto a isso, há lideranças cristãs que têm reservas quanto aos métodos usados na produção dos imunizantes, como no caso da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, que orientou aos católicos que evitassem a vacina da Johnson & Johnson se tivessem escolha, chamando-a de “moralmente comprometida” por conta do uso de células tronco obtidas em aborto.
Esses fatores têm se somado às dúvidas legítimas sobre a segurança e eficácia de vacinas que foram desenvolvidas às pressas por pesquisadores e laboratórios, diante da gravidade da pandemia. A maioria delas têm aprovação para uso emergencial, o geralmente é entendido como indicativo de que etapas de testes foram encurtadas e não há um desenvolvimento tradicional do imunizante.
Recentemente, o influente pastor Albert Mohler, presidente do Seminário Teológico Batista do Sul, anunciou que tomaria a vacina. Um gesto semelhante foi feito pelo evangelista Franklin Graham, que repreendeu pastores que desestimulam seus fiéis a se imunizarem.
Jared Moskowitz, diretor da Divisão de Gerenciamento de Emergências da Flórida, ressaltou a importância de lideranças religiosas esclarecerem os fatos junto às congregações: “Existem grandes problemas de confiança, grandes problemas de transporte e problemas de exclusão digital. E o que a comunidade da igreja fez foi resolver todos esses problemas”, afirmou, elogiando os pastores e demais líderes de seu estado.
Ninguém, segundo Moskowitz, tem mais credibilidade junto aos fiéis, pois eles “conhecem o pastor, confiam no pastor, e o pastor é melhor do que qualquer pessoa para mobilizar as pessoas”.
O pastor Salguero, entendendo todos os fatores envolvidos, estimula os fiéis de sua igreja a fazerem as perguntas que os afligem, mas conclui lembrando do contexto bíblico, que fala que há bálsamo em Gileade: “Nossa tradição é rica em Cristo, o curador. E a medicina é uma forma de curar as pessoas”.