Um levantamento realizado por pesquisadores em países da América do Sul demonstrou, em números, o que se nota na prática há décadas nas escolas públicas brasileiras: 85% dos professores de história que lecionam no país são de esquerda.
O levantamento, chamado “Esquerda ou direita? Professores, opção política e didática da história”, foi organizado por Caroline Pacievitch, professora de História da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Luis Fernando Cerri, professor de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
De acordo com informações do jornal Gazeta do Povo, 84,5% dos professores brasileiros disseram preferir siglas de esquerda ou centro-esquerda, enquanto que o posicionamento político de centro, centro-direita e direita, somados, corresponderam a 15,5% das respostas.
Em comparação com os demais países, a ausência de equilíbrio no Brasil é alarmante, mas há casos piores: No Uruguai, 100% dos professores disseram votar na esquerda ou centro-esquerda; No Chile, 93,33% dos professores de história seguem essa linha. Na Argentina, a situação é menos aguda: 46,83% preferem a centro-esquerda ou a esquerda, um índice semelhante ao encontrado no Paraguai.
Os dados servem de referência para identificar tendências no ensino da disciplina de História, já que a preferência pela visão de esquerda da maior parte dos professores fica clara. Essa característica inspirou, por exemplo, uma iniciativa do governo Dilma Rousseff (PT), que propôs em 2015 uma unificação do currículo escolar no país excluindo a história do cristianismo e da sociedade ocidental.
Por outro lado, o levantamento serve de combustível aos defensores do projeto Escola Sem Partido, que pede isenção de opinião política da parte dos professores nas salas de aula, para evitar a doutrinação ideológica de esquerda por parte dos educadores sobre os alunos.
A Unesco, que segue uma linha de abordagem mais progressista em suas políticas, já havia tirado conclusões semelhantes do cenário brasileiro. Um relatório de 2004 mostrou que, à época, 75,5% dos professores disseram “sim” à afirmação “a liberdade e a igualdade são importantes, mas se tivesse que escolher uma das duas, consideraria a igualdade como mais importante, isto é, que ninguém se veja desfavorecido”.
O relatório da Unesco foge ao uso de termos políticos, mas se vale de um pensamento que costuma ser usado de forma a delinear pensamentos mais à esquerda. A frase por si só é uma afirmação de que a liberdade está em jogo na busca pela igualdade. E a resposta dos professores, que no cenário proposto aceitam abrir mão da liberdade, caminha na direção de regimes de esquerda, que historicamente restringiram a liberdade sob o argumento de que o Estado estava trabalhando pela igualdade.
Os responsáveis pelo levantamento atual afirmam que os números constatados na hegemonia do pensamento esquerdista “provocam reflexões sobre o papel dos formadores de professores de História”, o que reforça “a importância de conectar política e didática na constituição da responsabilidade docente”.