Um estudo inédito divulgado recentemente apontou que os filhos de casais que se divorciam tendem a se tornar adultos sem nenhuma religião.
A pesquisa realizada pelo Public Religion Research Institute nos Estados Unidos descobriu que existe uma propensão de filhos de pais divorciados a se tornarem pessoas sem religião, de acordo com o relatório divulgado essa semana.
Trinta e cinco por cento dos filhos de pais divorciados disseram aos pesquisadores que agora são pessoas sem religião, em comparação com 23 por cento das pessoas cujos pais eram casados quando eram crianças, informou o jornal The Washington Post.
Os motivos que essas pessoas encontram para abandonar a fé variam, mas 29% dos adultos entrevistados apontam a postura contrária à homossexualidade como principal influência para essa postura. Outros 19% lembram de casos de abusos sexuais cometidos por padres e/ou pastores. No entanto, a maior parte, 60%, listou a falta de crença no que a religião prega como motivo para abandonar a fé.
“Uma boa parte da narrativa em torno do aumento dos não-religiosos se concentra na mudança das preferências culturais, que faz com que as pessoas optem por se afastar da religião”, comentou Daniel Cox, um dos responsáveis pelo estudo. “Eu acho que há também uma parte estrutural da história que não obteve tanta atenção. A Geração Y se desenvolveu de uma forma diferente de qualquer geração anterior. Parte disso é que ela é mais propensa a crescer com pais divorciados”, acrescentou.
Os pesquisadores concluíram que mesmo que filhos de um casal divorciado sejam criados a partir de princípios religiosos, eles se tornarão menos religiosos do que crianças que cresceram com os pais unidos. O relatório apontou que dentre filhos de divorciados, 31% vão à igreja toda semana, em comparação com 43% das pessoas religiosas cujos pais são casados.
Resultado esperado
O professor Andrew Root, docente do Seminário Luterano e autor de um livro que analisa as consequências espirituais do divórcio para os filhos, afirmou não estar surpreso com a constatação da pesquisa.
“Tudo num divórcio é dividido. Literalmente tudo. Os amigos dos pais ficam divididos. Os parentes se dividem. Todo mundo é partido, até mesmo a religião se parte. A igreja fica dividida. O pai deixa a fé da mãe, ou vice-versa. Negociar esses mundos se torna difícil”, pontuou.
Para o professor, faltam ações das igrejas para amenizar o impacto dos divórcios. Desde 1980, quando a separação de casais se tornou mais comum, os pastores e padres deixaram de pregar contra essa alternativa, com medo de que os fiéis se afastassem das igrejas.
Assim, o professor analisa o raciocínio de quem deixou a igreja: “Eles agora pensam: ‘Eu estou enfrentando meus problemas conjugais. A igreja não deve ter nada para me dizer, porque quando eu tinha 8 anos e lidei com o divórcio dos meus pais, meu professor de escola dominical nem mesmo disse ‘isso deve ser muito complicado para você’”, contextualizou.