Ao longo dessa semana a grande mídia tem publicado reportagens sobre os 50 anos do assassinato do pastor Martin Luther King Jr., um ativista dos Direitos Humanos que lutou contra o raciscmo e a segregação racial nos Estados Unidos.
Em seu tempo, cicatrizes do período em que vigorava a escravidão no país ainda ecoavam na sociedade, com estabelecimentos comerciais não aceitando a presença de negros, transporte público específico para as “pessoas de cor” e bairros inteiros dedicados às comunidades de negros. Esse período deixou marcas tão profundas que até hoje é comum ver igrejas dedicadas apenas aos afrodescendentes.
No Brasil, portais de notícia, emissoras de rádio e TV lembraram os 50 anos do assassinato do pastor batista. A TV Globo veiculou uma extensa matéria no Fantástico, no último domingo, explicando a jornada em busca de igualdade e o perdão dos filhos ao homem condenado por seu assassinato. A emissora também exibiu uma reportagem no Bom Dia Brasil da última quarta-feira, 04 de abril, com negros norte-americanos descrevendo o significado do legado deixado por Luther King Jr. na sociedade, e o tamanho da transformação que foi iniciada por seus discursos inspiradores.
Mas, o legado de Martin Luther King é maior do que o que a mídia destaca, segundo o pastor e teólogo John Piper: “Ele foi usado na mão poderosa da providência divina para mudar o mundo, de modo que as expressões de racismo mais chocantes, flagrantes, degradantes e públicas (e normalmente legais) foram embora. Só por isso, o quinquagésimo aniversário do trágico assassinato de Martin Luther King e a perda da causa da justiça merecem foco sincero”, afirmou.
Piper pontuou que Luther King foi um homem que mudou a história, incluindo a vida de muitos cristãos, e fez questão de comparar a situação de 50 anos atrás com os dias atuais: “O mundo racial em que cresci e o que vivemos hoje são incrivelmente diferentes. O racismo permanece em muitas formas em todo o mundo. De fato, os últimos dois anos trouxeram um revés desanimador. Mas, nos dias da minha juventude na Carolina do Sul, era pior. Muito pior”, relembrou.
“A segregação era quase absoluta, suas manifestações totalmente degradantes, e a defesa da mesma soava não apenas de multidões de rua, mas também dos salões do poder político – sem vergonha”, lamentou o pastor em um extenso artigo publicado no portal do ministério Desiring God.
Piper citou dados estatísticos sobre a antiga realidade social nos Estados Unidos: “Em 1954, 17 estados exigiram escolas públicas segregadas. Em 1956, 85% de todos os sulistas brancos rejeitaram a afirmação: ‘Estudantes brancos e negros deveriam frequentar as mesmas escolas’. 73% disseram que deveria haver ‘seções separadas para negros em bondes e ônibus’. 62% não queriam que um negro ‘com a mesma renda e educação’ se mudasse para o bairro”, elencou.
As informações históricas expõem realidades ainda mais chocantes para alguém que vive numa sociedade não segregada: “Em 1963, 82% de todos os sulistas brancos se opunham a uma lei federal que daria a ‘todas as pessoas, negras e brancas, o direito de serem servidas em lugares públicos, como hotéis, restaurantes e estabelecimentos semelhantes’. E em 1952 (quando eu tinha seis anos de idade), apenas 20% dos negros do sul em idade de votar estavam registrados para votar”, escreveu.
“O resultado dessas estatísticas foi um mundo injusto, inseguro, condescendente, hostil, degradante e humilhante para os negros. Você já fez uma pausa para se perguntar o que separar fontes de água e banheiros separados poderia significar, exceto: você é imundo como os leprosos? Era um mundo terrível”.
Mas, o pastor que se tornou mártir foi usado por Deus para que essa situação começasse a ser modificada: “Entre esse mundo racialmente terrível e esse mundo racialmente imperfeito, tivemos Martin Luther King Jr. Não sabemos se o mundo teria mudado sem ele, mas sabemos que ele foi uma vara nas mãos do Deus que tudo governa. Deixe de lado sua teologia e suas falhas morais. Elas não anulam o bom que Deus operou através deste homem”.
“Martin Luther King deu sua vida para mudar o mundo. E no final, ele estava cada vez mais consciente de que ‘o movimento’ lhe custaria a vida. Na noite anterior ao assassinato, do lado de fora do quarto onde estava hospedado, em Memphis, no dia 4 de abril de 1968, ele pregou no templo da igreja do bispo Charles Mason. Ele veio a Memphis para apoiar os trabalhadores de saneamento básico que eram mal pagos”, recapitulou Piper, citando o discurso em que o pastor parecia prever seu assassinato.
“Sua mensagem veio a ser chamada de ‘Eu já estive no topo da montanha’. Ele começou pesquisando a história mundial em resposta a uma pergunta de Deus: ‘Quando você gostaria de estar vivo?’ King respondeu: ‘Se você me permitir viver apenas alguns anos na segunda metade do século XX, serei feliz’. Por quê? Porque ‘vejo Deus trabalhando nesse período do século XX de uma forma que os homens estão respondendo. Algo está acontecendo em nosso mundo’”, contextualizou.
Ao final, John Piper enfatizou que “por um breve período de tempo”, Deus usou Martin Luther King em escala nacional como uma “voz para conter a violência e superar o ódio”, e reproduziu uma fala do pastor que tem um significado amplo e esquecido pelos movimentos sociais atuais: “‘Nós somos mestres em nosso movimento não violento em desarmar forças policiais. Eles não sabem o que fazer’. Ele acendeu um tipo de fogo que nenhum fogo poderia apagar, e um tipo de coragem que nenhum cão poderia derrotar”, concluiu.