Casos de abusos sexuais supostamente cometidos por um padre do interior de Goiás, que dizia ter dom para santificar o corpo feminino e restaurar a virgindade através do toque, estão sendo investigados pelo Ministério Público e já culminaram com a prisão do sacerdote católico.
Além de investigar os abusos disfarçados de sessões de purificação, o MP apura se o padre compartilhava material pornográfico envolvendo menores de idade. O suspeito foi identificado como Iran Rodrigo Souza de Oliveira, que atuava como pároco em Caiapônia, a 335 Km de Goiânia.
O MP investiga pelo menos cinco casos, mas admite que a quantidade de mulheres abusadas pelo padre pode ser “inquantificável”, pois o próprio sacerdote admite que ocorriam as sessões de “santificação” e que perdeu a conta da quantidade de mulheres que o procuraram.
De acordo com informações do jornal O Globo, o padre, de 45 anos, prestou depoimento ao promotor Danni Sales Silva por mais de cinco horas. “O número de vítimas é inquantificável. Agora tem uma fila de pessoas para dar depoimento. O advogado dele disse que vai levar de 20 a 30 casos de ‘milagres’. Na paróquia, apreendemos vídeo pornográfico, o que mostrava que ele dissimulava a situação de sacerdote, de clérigo, para abusar sexualmente das vítimas”, afirmou Silva.
Na transcrição do depoimento consta que o padre considera-se portador de “um dom”: “Em oração, teve uma inspiração. Em unção percebeu que rosto, seio, nádegas e vagina, tudo faz parte de um mesmo corpo e que é possível a santificação destas áreas específicas do corpo tanto pela oração, quanto pelo toque”, continua a transcrição.
Segundo o padre Iran, o toque nas genitálias femininas se faz necessário “dependendo da gravidade física ou espiritual da dor que assola a pessoa”.
“Recebia diversos pedidos de intervenção de outras cidades, e decidiu intervir pelo Whatsapp. Quando o pecado dizia respeito a uma relação extraconjugal ou pecado de carne o depoente, por vezes, pedia para ver partes do corpo desnudas, inclusive a vagina aberta porque, assim, poderia dar a benção e a santificação através de uma oração”, afirmou o padre.
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A explicação dada pelo acusado para suposto “dom” está na eucaristia: “A eucaristia é um mistério pois o pão e o vinho, com a imposição das mãos e a oração, se transformam em corpo e sangue de Cristo”, transmitindo a ele a “unção”.
A transcrição do depoimento do padre cita o caso de uma jovem que o procurou por se sentir em pecado após ter feito relações sexuais com um homem em uma festa. “O depoente perguntou se ela gostaria de receber a benção e santificação e, assim, fez o sinal da cruz tocando os seus olhos, cabeça, coração, seios, vagina. Para esse processo de santificação foi necessário que ficasse pelada”, diz o documento, reiterando que a mãe dessa vítima teria consentido com o procedimento.
O advogado do padre, Leonardo Couto Vilela nega as acusações de abuso sexual: “Os toques não tinham qualquer intenção, não havia qualquer lascívia. A mão ficava espalmada. O padre era a ponte entre a pessoa e Deus, a motivação era religiosa. Ele era um intermediador. Havia inclusive consentimento dos pais”, frisou.