Aos 22 anos, Priscilla Alcantara não quer se fechar no rótulo de “cantora gospel”, acumula sucesso de público e crítica, mas também polêmicas com setores da igreja evangélica que considera inadequados.
“Jesus tem, sim, sido bem representado, mas tem uma parte do fã-clube que dá umas mancadas”, disse a cantora em recente entrevista. “Não tem como generalizar, eu gosto de focar naquilo é bom. Em tudo aquilo que você procurar, vai ter defeito, uma parte ruim, uma parte um pouquinho mais estragada. Assim como outras coisas, a igreja no Brasil tem seus defeitos, mas também existem pessoas que têm representado Cristo de uma maneira excelente”, acrescentou.
Ao portal G1, a cantora disse ainda que definir-se como gospel limita sua arte: “Eu não me considero uma cantora gospel. O que seria isso? Uma pessoa que só canta o quê? Não tenho preconceito com o termo, é mercadológico, mas a minha arte vai muito mais além”, garantiu a jovem que cresceu como apresentadora de programa infantil no SBT e hoje é seguida por um batalhão de fãs nas redes sociais.
Antes do álbum “Gente”, lançado em 2018 com distribuição da gravadora Sony Music, Priscilla Alcantara não se recusava a ser descrita como cantora gospel. O disco foi um sucesso imediato, com 685 mil streams em plataformas digitais e um milhão de visualizações da música Empatia, no YouTube.
“Sei onde quero chegar com minha música. Eu quis ampliar minha comunicação e falar não só com cristãos. Tem algo que se chama graça comum, que está sobre o cristão e o não cristão. Somos ligados pela nossa humanidade”, afirmou, respondendo as críticas de quem apontou que seu disco não fala de Deus de forma direta.
Frequentadora da igreja Bola de Neve, na Lapa, zona oeste de São Paulo, diz que sua nova postura é inspirada no relato dos evangelhos: “Jesus não era só um cara que fazia coisas metafísicas ou se preocupava só em curar uma doença. Ele era inteligente, tinha resposta para coisas naturais, para política, como cidadão, se envolvia na sociedade como todo”.
Embora esteja sempre atualizada com os temas debatidos nas redes sociais, não quer ser rotulada como uma feminista. E a cautela, segundo ela, é para evitar que se torne um símbolo: “Se você me perguntar se eu sou feminista, tenho medo de me colocar num lugar de representante do movimento. Por isso, não falo ‘eu sou feminista’”, pontuou.
“Eu acredito no direito da mulher, no papel e principalmente na força. A minha vida pode dizer muito sobre isso… Vim de origem pobre, tenho mulheres fortíssimas dentro de casa, eu só não me rotulo porque me colocaria no lugar de representante de um movimento que eu não concordo com todas as pautas”, acrescentou, demonstrando lucidez e compromisso com aspectos de sua fé que contrastam com as bandeiras do movimento.
Sobre a relação com os admiradores de seu trabalho, Priscilla Alcantara contou que nem tudo que pedem, ela faz: “Meus fãs cobram muito que eu faça feats (parcerias com outros artistas). Mas eu tenho que saber o que a pessoa quer falar, o que eu quero falar. Tem que ter sentido”, disse.
Um exemplo é Pabllo Vittar, que cantou um trecho da música Empatia em um vídeo no Instagram. De imediato, os fãs pediram um dueto entre ele e Priscilla. A cantora, no entanto, não se comprometeu, e explicou: “Tudo diz respeito ao conteúdo. Achei tão bonito quando ela (sic) cantou minha música. Independentemente daquilo que a gente diverge, a gente convergiu em alguma coisa”.
A fase atual, segundo ela, nasceu de um momento difícil ao sofrer um ataque de ansiedade: “Nem sabia o que era isso. Entendi que precisava de ajuda profissional para entender o que estava acontecendo. A ansiedade passou a ser uma questão na minha vida […] Passei por crises emocionais, mas isso foi simplesmente um acúmulo de anos em que eu ignorei a mim mesma enquanto ser humano”, explicou. “Obviamente não foi uma experiência agradável, mas eu dou graças a Deus porque poderia ter acontecido algo pior. Eu trato com terapia, não tomo remédio nem nada”, concluiu.