Um professor de história decidiu inovar para cumprir seu papel nas aulas dadas para alunos condenados à prisão e, diante da falta de material, resolveu usar os exemplares da Bíblia Sagrada como fonte de material para lecionar a matéria. O resultado? Se tornou um dos vencedores do “Oscar da Educação”.
Di Gianne de Oliveira Nunes, professor de história há 10 anos, desenvolveu um método para lecionar no curso Educação de Jovens e Adultos e Ensino Médio (EJA) da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) em Lagoa da Prata, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais. Em meio à sua capacidade didática, ele usou a Bíblia Sagrada para capturar a atenção dos alunos.
Segundo informações do jornal Correio Braziliense, Nunes agora está concorrendo a outro prêmio, de Educador do Ano, após ser premiado na categoria Educadores Nota 10 do concurso promovido pela Fundação Victor Civita, que avaliou 5.006 projetos.
“Regime fechado, visão aberta” foi o nome escolhido pelo professor para o projeto de educação na Apac: “Na unidade prisional, quando eu estava dando aula sobre império romano, um aluno me questionou se existia a possibilidade de estudar por meio da Bíblia. Foi então que percebi que a grande quantidade de Bíblias disponíveis dentro da escola do presídio. Agora, vou utilizar o livro mais comum do sistema prisional a nosso favor”, contou.
Ao longo de dois meses o professor desenvolveu o material das aulas e tomou o cuidado de separar a fé do relato histórico: “O cenário da Bíblia é histórico e fértil. Mergulhamos em um trabalho intenso para estudar, analisando as tradições, as culturas e as sociedades dos romanos e dos gregos. Como no presídio os alunos não têm acesso à internet, usamos a Bíblia e os livros de história. Ora líamos um, ora outro e, depois, discutíamos se o fato era comprovado pela arquelogia”, explicou.
Segundo o professor, os alunos aprenderam e se dedicaram: “Eles ficavam ansiosos para as aulas”, acrescentou, revelando ainda que suas aulas agora têm colaborado para a melhora do desempenho dos alunos em outras disciplinas, como literatura e atualidades (no caso da segunda, ajuda entender os conflitos no Oriente Médio).
“Mudou o rendimento na sala de aula. Até na biologia, a lepra, por exemplo, muito citada na Bíblia. Ainda tem preconceito e isso vem desde a época. E tudo isso a gente vai refletindo, desconstruindo”, afirmou Nunes.
O professor ainda disse ter notado uma melhora na autoestima dos alunos: “A mãe de um aluno me ligou e disse, chorando: ‘Meu filho só tinha saído no jornal em páginas policial e, agora, todo mundo voltou a acreditar nele. De repente, ele era vencedor num projeto educacional em nível nacional’”.
Como premiação por sua iniciativa, o professor recebeu R$ 15 mil. O valor, garante, foi dividido entre os alunos da turma do presídio: “Nada mais justo. Eles são os protagonistas”, concluiu.