O travesti que encena uma peça no papel de Jesus afirmou que as críticas a seu trabalho são feitas por pessoas que não leram a Bíblia Sagrada, pois o nazareno estava ao lado dos excluídos. Acusado de vilipêndio religioso, o ator que se identifica como Renata Carvalho minimizou as críticas.
Carvalho concedeu uma entrevista à revista Veja e comentou a decisão da Justiça de determinar o fim da encenação em Jundiaí (SP). A peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, estava em cartaz no Serviço Social do Comércio (SESC), e o juiz Luiz Antonio de Campos Júnior acatou o pedido da advogada Virginia Bossonaro Rampin Paiva para que a exibição fosse interrompida.
Questionado sobre por quais motivos decidiram retratar Jesus como travesti, Carvalho respondeu: “A ideia é que Jesus tenha a identidade da atriz que o encarna no palco. E eu sou travesti. Os meios de comunicação, aliás, evitam a palavra travesti: preferem me chamar de trans. Mas não sou trans. Eles usam esse termo para higienizar. E é isto que nós, artistas travestis, queremos: um papel que nos represente”, afirmou.
Sobre religião, disse acreditar “numa força maior”: “Não sou católica, espírita, evangélica ou da umbanda. Gosto de Santo Expedito, Nossa Senhora Desatadora dos Nós, mas também de Oxum. Eu respeito todas as religiões”, afirmou, demonstrando um alinhamento ao discurso politicamente correto.
Na preparação para a peça, Carvalho diz ter estudado muito sobre a trajetória de Jesus Cristo: “Como toda atriz, mergulhei de cabeça no meu personagem. A vida de Jesus é um assunto que me agrada, sempre pesquisei o tema religião. Li a Bíblia, biografias e livros sobre a época em que Ele viveu. Também fiz preparação corporal e debati como dar uma cara brasileira à peça, que foi escrita originalmente em inglês”, afirmou.
Em sua visão, o Brasil “está, sim” pronto para a encenação de uma peça em que Jesus é mostrado como um travesti: “Recentemente, uma família de pai, mãe e filhos — todos cristãos — viu a peça e me deu uma planta com uma mensagem linda, dizendo que eu estava plantando só coisas boas”, alegou.
“Sou travesti e conheço bem o preconceito e a hipocrisia. É só ir à minha página no Facebook para ver que há pessoas que até me ameaçam de morte. Fico triste porque são ataques de ódio baseados em fundamentos religiosos que não têm sentido. Quem nos ataca não leu a Bíblia, porque Jesus estava do lado dos excluídos”, reiterou Carvalho.