No início da última semana o reverendo Augustus Nicodemus Lopes, da Igreja Presbiteriana do Brasil, realizou uma palestra sobre movimento apostólico evangélico brasileiro. Com o tema “Apostolado no Brasil – Uma análise do movimento apostólico evangélico”, a palestra foi promovida durante o Café Teológico na Galeria Cultura Bíblica e teve o apoio da Editora Fiel.
A palestra teve como base a pesquisa realizada pelo reverendo durante seis meses no Seminário Teológico de Westminster, na Filadélfia (EUA), para um livro que está escrevendo sobre o tema, e que será lançado ainda esse ano. Entre os pontos tratados na palestra, os principais foram: “Verdadeiros Apóstolos”, “A nova reforma apostólica”, “Falsos apóstolos nos tempos da igreja primitiva”, “Apóstolo não é um Dom” e “Dominionismo”.
Explicado que o foco de seus estudos foi uma análise sobre os autodenominados apóstolos do movimento neopentecostal, o pastor que muitos desses ditos apóstolos se utilizam do termo de maneira errada e que, inclusive, muitas vezes se apresentam como superiores aos 12 (apóstolos que acompanharam Jesus em seu ministério).
– Já na época do novo testamento, tinha gente querendo ser apóstolo. A gente lê lá em segunda Coríntios capítulo 11 verso 4, capítulo 11 verso 13, capítulo 12 verso 11, Paulo se referindo a falsos apóstolos, ou “super apóstolos” de maneira zombeteira – afirma Nicodemus em sua palestra, explicando que ao estudarmos o contexto percebemos que se tratava de pessoas que se infiltravam na igreja afirmando serem apóstolos de Jesus e ensinando falsas doutrinas.
Ao longo de sua palestra, o pastor tratou do tema fazendo uma análise desde a origem do termo “apóstolo” até os diferentes entendimentos dados ao conceito ao longo da história e, segundo os organizadores da palestra, ressaltou “os movimentos heréticos que algumas destas falácias iniciaram”.
Sua palestra culminou com uma análise do presente fenômeno apostólico evangélico brasileiro, sobretudo no pentecostalismo. Citando nomes com Renê Terra Nova, Valnice Milhomens e Neuza Itioka, Nicodemus explica que todos esses ditos apóstolos são constituídos apóstolos por alguma visão, em que afirmam que Deus apareceu a eles dizendo que são apóstolos. Ele ressalta ainda que o movimento apostólico tem como “líder” e mentor mundial o teólogo C. Peter Wagner, percursor da doutrina da batalha espiritual.
Nicodemus explica que, após Wagner perceber o fracasso da doutrina da batalha espiritual, ele relata ter tido uma visão de Deus dizendo para ele que “faltavam generais nessa guerra”, surgindo assim os princípios para a chamada Nova Reforma Apostólica, que culminou no movimento apostólico moderno que hoje é adotado por várias denominações neopentecostais.
O ponto central da crença desse movimento, segundo explica Nicodemus, é a ideia de que Deus irá restaurar o mundo antes da segunda vinda de Jesus, dando aos crentes prosperidade e curas; e que promoverá essa restauração através das igrejas que estão sob a do modelo apostólico de governo.
No Brasil, ele explica que tal movimento se iniciou em agosto de 2001, quando o apóstolo Roni Chaves, da Costa Rica, ungiu “os primeiros apóstolos brasileiros” ligados à Nova Reforma apostólica: Valnice Milhomens, Arles Marques, Mike Shea e Jesher Cardoso. Porém, ele ressalta que outros líderes evangélicos se utilizam do termo de maneira isolada, como um título em suas denominações.
Nicodemus explica também o uso do título “paipóstolo” por Renê Terra Nova. Segundo ele, o termo nasceu de uma visão que Terra Nova afirma ter tido na qual Deus mandou que ele gerasse uma “geração apostólica” que iria governar o Brasil. Foi então que o movimento do G12 entrou como “método de preparação de apóstolos”. Além disso, foram criadas várias redes apostólicas no Brasil, de forma a unir as igrejas que acreditam nesse modelo de governo apostólico.
Ao fim de sua palestra, Augustus Nicodemus ressaltou algumas práticas heréticas defendidas pelas igrejas apostólicas, como o resgate de costumes judaicos e até mesmo a ideia que os apóstolos são intermediários entre Deus e seus seguidores de forma que “ninguém vai ao pai senão por um apóstolo”. Ele destaca também falsas profecias, como a afirmação de Renê Terra Nova de que Jesus voltaria em 2011, a manipulação da Bíblia a falta de conhecimento teológico por parte desses líderes, e a teologia da prosperidade, que ele afirma ser a base do movimento.
– Esse movimento é chamado de Nova Reforma Apostólica. Então minha crítica vai ser dizer: primeiro que não é nova, não é reforma e muito menos apostólica – resume Nicodemus, afirmando ser incorreta a comparação feita pelos defensores desse movimento com a Reforma Protestante, uma vez que querem colocar seus apóstolos acima até mesmo da autoridade das escrituras.
– Você não precisa de apóstolo hoje, porque os verdadeiros já fizeram a sua obra – finaliza.
Assista na íntegra:
Por Dan Martins, para o Gospel+