Em Salvador (BA), o acarajé é um dos principais itens do programa turístico e há uma década, foi declarado Patrimônio Imaterial Nacional. Com a ampliação da diversificação religiosa no país, marcada principalmente pelo crescimento dos evangélicos, surgiram variações da especiaria, como o bolinho de Jesus.
No entanto, a prefeitura da capital baiana agora quer limitar a venda do acarajé, permitindo apenas as baianas tradicionais, adeptas de religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, por exemplo.
Rosemma Maluf, titular da Secretaria de Ordem Pública (SEMOP), afirmou em entrevista que o objetivo é permitir apenas o acarajé da forma tradicional, proibindo as versões vendidas por evangélicas, que não consagram o alimento a entidades e não usam as tradicionais vestimentas das baianas.
A secretária anunciou que o decreto municipal 12.175, de novembro de 1998, que atribui obrigações para o comércio exercido pela baiana de acarajé e de mingau, será modernizado, para proibir a venda do bolinho de Jesus.
A postura foi adotada após uma reunião com a Associação de Baianas de Acarajé, Mingau e Receptivo (ABAM). Rosemma frisou que irá apertar a fiscalização para que tudo seja feito como determina a certidão de registro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que prevê que as baianas deveriam “utilizar vestimenta típica de acordo com a tradição da cultura afro-brasileira”.
Dizendo que irá “lapidar” a lei, a secretária quer licenciar apenas as baianas que respeitam a tradição afro-brasileira na hora de se vestir e de fazer o acarajé: “No espaço público, só vamos licenciar as baianas caracterizadas. Existe uma indumentária que precisa ser preservada e uma forma de fazer o bolinho. Senão, o ofício vai acabar”, acredita a secretária.
A presidente da ABAM, Rita Santos, concorda: “O acarajé tradicional é patrimônio de uma comunidade e precisa ser respeitado”.
A receita que deve ser seguida, segundo o babalorixá Carlos Barbosa dos Santos, conhecido como pai Gueji de Oyá, do terreiro Ilê Axé Opô Igbalé, o acarajé tem que ser feito de feijão fradinho temperado somente com cebola e sal, e frito no dendê. “O acarajé original só tinha pimenta e vatapá. Depois, entrou o camarão e, recentemente, o caruru. Mas como também fazem parte do cardápio dos orixás não tem problema”, explica.
No entanto, nem entre os próprios seguidores das religiões afro existe consenso: “Eu vendo com siri e bacalhau por causa de clientes que têm alergia ao camarão. Mas mantenho a forma de fazer. Em momento algum quero mudar o bolinho”, garante o baiano de acarajé Yan Reinel.