O canal de humor Porta dos Fundos pegou carona na mídia do Rio de Janeiro para falar de supostos “traficantes evangélicos” e fez um esquete mostrando a versão gospel de um ponto de venda de drogas, a chamada “boca de fumo”.
No vídeo, uma usuária vai até o ponto de venda para comprar droga, mas se depara com o traficante “convertido”, uma caricatura do evangélico pentecostal comum: calça e camisa social completamente abotoada, linguajar “evangeliquês” – com termos como “varoa”, “reteté”, “fogo purinho”, entre outros – e uma postura de seriedade exacerbada.
A conversa se estende e o traficante diz que foi obrigado a “descer o cajado no fariseu”, um eufemismo para a execução de um comparsa da facção criminosa que teria se portado de forma inadequada. “Jeová moveu as águas […] Agora ele está lá, queimando no colo do capiroto”.
O baile funk promovido pelos traficantes dos morros cariocas vira “baile bom, reprépré a noite inteira”: “Cada varão com a sua varoa, cada Isaque vai encontrar sua Rebeca, e o melhor de tudo: suco Tang liberado até a meia-noite”, diz o traficante que teria se convertido.
A usuária recusa o convite dizendo “Deus abençoe, vaso, amém”, e recebe uma reprimenda: “Danila, vê se arruma esse decote aí, hein? Isso aqui não é prostíbulo não! Pega a visão, irmã”, diz o traficante.
Na cena extra, durante os créditos do vídeo, o traficante serve drogas aos consumidores como se fosse a repartição do pão, na ceia celebrada pelos evangélicos, ou a hóstia, no sacramento católico. “Pega leve, irmão, vai com Deus”, diz ele, fazendo um gesto como se abençoasse o dependente químico.
Desprezo
O Porta dos Fundos promove uma espécie de proselitismo do ateísmo, com a ridicularização de símbolos religiosos. Dois dos fundadores, os comediantes Fábio Porchat e Gregório Duvivier (este último um aguerrido militante de esquerda e defensor do PT), são ateus declarados e agem de forma agressiva a toda expressão de fé, seja através dos esquetes que escrevem, seja por declarações e publicações em jornais e redes sociais.
Em outros momentos, o grupo já ridicularizou passagens bíblicas, tradições católicas e lideranças evangélicas. As polêmicas já renderam troca de farpas com religiosos, acusações e ações na Justiça.
Um dos exemplos é a ação movida pelo Centro Dom Bosco, associação católica do Rio de Janeiro, que processou o grupo pedindo indenização de R$ 5 milhões por conta da ridicularização do conceito de Paraíso na tradição da igreja romana. Em outras ocasiões, foram alvo de denúncias do pastor Marco Feliciano.
A disposição dos humoristas – e militantes ateus -, no entanto, não parece diminuir, e valendo-se da liberdade de expressão, escondem-se atrás de um pretenso humor para continuar agredindo quem, diferente deles, tem fé.