Novos vídeos que documentam encontros da cúpula da Igreja Universal revelam que foi estabelecido um prêmio – uma viagem internacional- aos sete pastores que mais arrecadassem dízimos dos seus fiéis.
As imagens (abaixo) são de videoconferências comandadas em 2008 pelo bispo Romualdo Panceiro, atual “número dois” na hierarquia da igreja e apontado pelo líder Edir Macedo como seu sucessor. Elas demonstram a pressão exercida sobre os pastores para que aumentem a coleta de recursos.
Da sede da igreja em São Paulo, Panceiro se conectava com os principais pastores e bispos da Universal, no Brasil e no exterior.
Uma das gravações ocorreu em meio à campanha pela qual a igreja mais arrecada, a “Fogueira Santa”. Panceiro orientava os pastores a “não limitar” o valor do dízimo, mas “estipular”. Veja:
Em outro trecho, Panceiro conta que o desempenho dos pastores seria checado por um programa de computador. Segundo ele, alguns pastores “malandros” reduziam sua arrecadação apenas para parecer que haviam “arrebentado” na campanha.
“Eu tenho um programa aqui que é batata, que bate com a boleta legal.”‘
No vídeo acima, Panceiro também pressiona muito para o aumento da arrecadação. Um pastor não identificado diz que uma igreja em Guarulhos (SP) que arrecadava R$ 5 mil mensais passou a obter quase R$ 100 mil.
Se cada igreja repetisse o desempenho da de Guarulhos, a arrecadação chegaria a R$ 200 milhões mensais, ou R$ 2,4 bilhões anuais. O Ministério Público estimou, em 2009, uma “movimentação financeira” de R$ 1,4 bilhão anual.
Vídeos
Os cinco vídeos, que somam seis horas de duração, foram obtidos de um ex-pastor pelo ex-voluntário da Universal e ourives Eduardo Cândido da Silva, que hoje move ação contra a igreja por danos morais.
A exemplo do que fez com as primeiras duas gravações, reveladas em abril pela Folha, Silva deverá entregar os novos vídeos ao Ministério Público.
Outro lado
A Igreja Universal afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que é “termo preconceituoso” chamar de premiação as viagens a Israel destinadas a seus pastores.
“A viagem para Israel não é considerada uma premiação e sim uma missão religiosa almejada por cristãos evangélicos de todo o mundo. Entre os 15 mil pastores da Igreja Universal do Reino de Deus que atuam no Brasil, isso não é diferente. A missão religiosa na Iurd, entre outras peregrinações, consiste em levar pedidos de oração dos fiéis a lugares sagrados, como o Monte Carmelo, a Muralha de Jerusalém e o alto do Monte Sinai, por exemplo, uma árdua e esgotante escalada de mais de dois mil metros a pé.”
Segundo a igreja, são viagens “cansativas e curtas de quatro, cinco dias, no máximo, em que, quase sempre, consome-se mais tempo em deslocamentos aéreos do que nos locais em que são realizadas orações”.
Sobre o controle do fluxo de arrecadação de dízimos, a Iurd disse tratar-se de “procedimento interno”.
A respeito de a igreja estipular, mas não limitar, o valor dos dízimos, a assessoria informou que a Universal “possui como doutrina a Teologia da Prosperidade. Ou seja, acredita na intervenção divina também para o bem-estar material do homem. Os frequentadores da Iurd têm liberdade absoluta para fazerem ou não doações financeiras e da maneira como entenderem correta”.
Para a assessoria da igreja, “o exercício de fé pregado pelos pastores da Iurd tem como único fundamento a prática dos ensinamentos da Bíblia. Ou seja, se as pessoas contribuem cada vez mais é porque simplesmente elas recebem cada vez mais.”
A assessoria também criticou a Folha. “Mais uma vez, a Folha de S. Paulo usa expressões e frases fora do seu contexto original para atacar a Iurd, seus líderes e mais de 13 milhões de fiéis em todo Brasil. Ao explorar trechos maldosamente pinçados de uma pregação de três horas de duração, o jornal adota uma postura radical e inadmissível de preconceito religioso.”
Fonte: Folha / Gospel+
Via: Pavablog