A nova novela das 21h00 da TV Globo, que se chamará Amor à Vida, terá um personagem gay e vilão, além de uma “periguete” que se converte ao Evangelho e muda de vida. Anteriormente, a trama havia recebido o nome provisório de Em Nome do Pai.
O autor Walcyr Carrasco afirma que, apesar da recente polêmica com o pastor Marco Feliciano, o perfil dos personagens já estava estabelecido desde antes, e que não alterou nada na novela em função disso.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o autor ironiza ao dizer que o personagem gay vilão seria aprovado por Feliciano: “O personagem já existia antes do aparecimento do pastor Feliciano […]Estou escrevendo a novela há um ano. Mas, de certa maneira, é um tipo que o Feliciano aprovaria, porque não se expõe. É o gay no armário, casado e com filho”, diz Carrasco. O personagem será interpretado pelo ator Mateus Solano.
Segundo o autor, a trama seguirá a receita tradicional dos folhetins, mas tratará temas delicados com seriedade: “Amor à Vida será um novelão clássico, sobre relações familiares e amorosas, ambientada em um hospital paulistano. A família principal é tradicional, cheia de segredos que vão se revelando ao longo dos capítulos […] Tem o casal gay que quer ter um filho por inseminação e contrata uma barriga de aluguel. Com eles eu não vou brincar. É realmente para mostrar a existência dessa nova família. Não há crítica. É um casal gay estabelecido”, diz.
Walcyr Carrasco comenta ainda que sua decisão de fazer um personagem gay vilão rendeu críticas por parte dos ativistas e militantes homossexuais no Twitter: “Não quer dizer que todos os gays sejam maus, quer dizer que esse personagem é mau e é gay. O politicamente correto virou uma obsessão. Sempre vão arranjar um motivo para dizer que tal obra não deveria ir ao ar por esse ou por aquele motivo”, critica o autor.
Na novela, segundo o autor, não existem planos de que uma cena com beijo gay vá ao ar, mas se for necessário, fará: “No Brasil, qualquer casal gay pode se beijar onde quiser e ninguém pode falar nada. Mas esse direito não é exercido, só em locais específicos. O que se cobra da TV é que ela dê um passo que os próprios homossexuais não deram, que é o de assumir o seu espaço. Essa é a visão da Globo. E eu sou um funcionário”, diz Carrasco.
Sobre os evangélicos, as críticas a setores do movimento caminham lado a lado com admiração: “Tive um tio que era pastor presbiteriano. A minha única tia viva, irmã da minha mãe, é evangélica. Existem dois tipos: o mais tradicional, que costuma ser bem bacana, e o de algumas igrejas radicais, que insuflam e pedem dinheiro. São esses que fazem muito barulho e escândalo”, constata o autor.
Carrasco entende que a sociedade brasileira já não é tão conservadora como antes: “Travestis são eleitos no interior do Nordeste para deputado, para vereador, em lugares que nunca imaginaríamos. Tenho a impressão é que há grupos conservadores na sociedade que fazem muito barulho porque dão surra, gritam. Existe uma onda de conservadorismo insuflada por algumas igrejas evangélicas”, comenta.
A mesma visão, de pós-modernidade, é compartilhada pela atriz Letícia Sabatella, de acordo com o portal Uol. Conhecida por seu engajamento em assuntos ligados à política, ela ironiza ao dizer que o pastor Marco Feliciano “é uma bênção” e que por causa dele, muitas pessoas se sentiram motivadas a se expressar.
“O Feliciano é uma benção de Deus. Ele é tão nazista, arcaico e egoísta que enfim estamos acordando para a homofobia e o preconceito. É um mal que vem pra bem. É tão absurdo e forte, como se quem não pensa como ele estivesse associado ao demônio, possuído. Aconteceram coisas que doeram na minha alma. E, para ser contra essa aberração, quem antes não queria chocar a bisavó está se assumindo. Graças a isso, a homofobia daqui a pouco vai acabar, como acabou a escravidão”, critica a atriz.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+