RIO – Novos tempos e um velho modo de ser Igreja. As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que marcaram a Igreja Católica no início dos anos 70 centralizadas na população pobre das zonas rurais, periferias e interior, perderam sua força e estão menos visíveis. Mas se engana quem pensa que não continuem atuantes no Rio. O almoço de Eduardo Paes com padres, na semana passada, trouxe de volta o trabalho político atuante da esquerda católica.
Classificada por Frei Betto como “a própria Igreja na base popular“, as CEBs procuram entender as causas estruturais da miséria e as formas para combatê-la.
Sua criação se deu não só para atualizar as diretrizes do Concílio Vaticano II nas comunidades, mas também para trabalhar a conscientização política. De acordo com o sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira – assessor das CEBs e professor de mestrado e ciência da religião da PUC-MG – as Comunidades de Base apóiam explicitamente candidatos com propostas que atendam as necessidades da população – ainda que a igreja seja contra.
Um de seus precursores foi o então arcebispo de Natal (RN), dom Eugenio de Araújo Salles., agora cardeal arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio. Apesar disso, durante o período em que foi Bispo aqui, “ele não registrava muita simpatia pelas CEBs” e para contestá-las desenvolveu círculos bíblicos e pastorais, como as de favelas, segundo a coordenadora de graduação do Departamento de Teologia da Puc-Rio e Assessora Nacional de Encontros de CEBs, Tereza Cavalcanti.
Conservador, o cardeal prefere não falar. Por meio de seu assessor, Adionel Cunha, diz que, “várias vezes expressou sua opinião a respeito das CEBs em artigos”. A conscientização política é trabalhada de vários ângulos nas CEBs.
– Se um partido tem propostas de vida dignas nas favelas, ele merece o nosso voto. É mais que um apoio. Convidamos o povo a participar e a ajudar a elegê-lo. Isso independe do bispo ou do padre. Cada comunidade analisando a sua situação apóia o candidato, o que não significa que as CEBs recebem um tostão dele. O apoio é pelas propostas que vão beneficiar o rebanho. Mas às vezes, a igreja vai contra e o bispo desautoriza – diz o sociólogo Pedro Ribeiro.
O assessor de imprensa da Arquidiocese do Rio, Padre Leandro Cury, afirmou que os católicos são orientados apenas a analisarem as propostas dos candidatos, e explicou sobre o encontro político.
– O almoço de Eduardo Paes e do Senador Dornelles com os padres foi para mostrar a boa relação dele com a Igreja, reafirmando seus projetos a nível de senado em defesa da vida, da família e dos valores da sociedade.
Segundo ele, quando os padres já estavam de saída, Paes chegou. Ele reconheceu que muitos católicos votaram nele e agradeceu a Igreja. Mas não se trata de um apoio, até porque os padres não podem fazer isso. A igreja incentiva que os católicos vivam a vida política, candidatando-se, ou votando. O que a gente faz é orientá-los a analisarem as propostas. Algumas ferem as doutrinas da igreja, então nesses candidatos, orientamos que não votem. Mas dizer vote em A ou B, isso a igreja não faz – enfatiza.
Sobre as comunidades de base, padre Leandro diz que elas vivem uma realidade muito mais urbana e que o trabalho de conscientização política, hoje, é através da Pastoral.
Mesmo com menor visibilidade, as CEBs continuam atuantes.
– No Rio atuam pouco, mas funcionam especialmente no interior, em Resende, Volta Redonda, periferias, Baixada e Zona Oeste, onde há vários padres retomando essa questão e se reorganizando – diz Teresa Cavalcanti.
Fonte: JB Online