O papa Francisco está no centro de uma nova polêmica após se colocar a favor da união civil de homossexuais. O posicionamento do líder da Igreja Católica contrasta com seu silêncio a respeito das igrejas incendiadas no Chile durante protestos violentos de ativistas de esquerda e desperta revolta na ala conservadora da denominação.
O pontífice manifestou seu posicionamento favorável à união civil de pessoas do mesmo sexo em entrevista a um documentário sobre o tema. O filme, produzido pelo russo Evgeny Afineevsky, foi divulgado na última quarta-feira, 21 de outubro, e causou alvoroço entre católicos conservadores, incluindo sacerdotes do alto escalão da Igreja.
“Homossexuais têm o direito de fazer parte da família. Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser expulso, ou miserável por causa disso. O que temos que criar é uma lei da união civil. Dessa forma, eles estão legalmente cobertos. Defendo isso”, disse o papa, restringindo sua manifestação ao âmbito civil.
Ainda assim, essa postura vai em direção completamente oposta à do papa emérito Bento XVI, que em 2003 afirmou que a Igreja Católica não deveria reconhecer a união civil de pessoas do mesmo sexo.
“A Igreja ensina que o respeito para com as pessoas homossexuais não pode levar, de modo nenhum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao reconhecimento legal das uniões homossexuais”, disse Bento XVI na ocasião.
O novo posicionamento adotado pelo papa contrasta com uma postura que ele próprio adotava enquanto ainda era arcebispo de Buenos Aires. Em 2010, segundo informações do portal Observador, Jorge Mario Bergoglio colocou-se frontalmente contra às iniciativas de legalizar a união civil dos homossexuais.
Os acenos de Francisco à militância LGBT vêm desde o início de seu pontificado. Em 2013, deu a entender que não reprovaria o comportamento que a doutrina da Igreja Católica – e de todas as demais tradições cristãs, incluindo o protestantismo – ensina que não deve ser praticado: “Se uma pessoa é homossexual e procura Deus e a boa vontade divina, quem sou eu para julgá-la?”, disse na ocasião.
Mais recentemente, o líder católico se reuniu com pais de homossexuais e transmitiu uma mensagem que deu a entender que não exortaria as pessoas pelo seu pecado: “O papa ama seus filhos assim como são, porque são filhos de Deus”, declarou.
A dubiedade do papa Francisco a respeito do assunto se torna ainda mais polêmica quando se consulta o Catecismo da Igreja Católica: “Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta [aos homossexuais] como depravações graves, a Tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’. São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados”.
Heresia
O arcebispo Carlo Maria Viganò, que foi Núncio Apostólico nos Estados Unidos e Secretário-geral do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, publicou artigo repudiando a postura do pontífice, classificando como heresia as declarações de Francisco.
A reação contundente e extremamente franca de Viganò repercutiu de maneira intensa na imprensa internacional, visto que o arcebispo considera a fala do papa como uma tentativa de causar ruptura na Igreja Católica, provocando “escândalo para os fiéis” ao defender uma “heresia”.
“Não é preciso ser teólogo ou especialista em moral para saber que tais afirmações são totalmente heterodoxas e constituem uma causa gravíssima de escândalo para os fiéis”, disse Viganò. “Preste atenção: essas palavras [do Papa] constituem simplesmente a enésima provocação pela qual a parte ‘ultra-progressiva’ da hierarquia quer provocar um cisma astuciosamente, como já tentou fazer com a Exortação Pós-Sinodal Amoris Laetitia, a modificação de doutrina sobre a pena de morte, o Sínodo Pan-amazônico e a imunda Pachamama, e a Declaração de Abu Dhabi, agora reafirmada e agravada pela Encíclica Fratelli Tutti”, escreveu.
Viganò afirmou ainda, no artigo publicado no LifeSiteNews que a postura do pontífice tem sido vista como uma “armadilha” para os católicos conservadores: “Parece que Bergoglio está impudentemente tentando ‘aumentar as apostas’ em um crescendo de afirmações heréticas, de tal forma que forçará a parte saudável da Igreja – que inclui bispos, clero e fiéis – a acusá-lo de heresia, a fim de declarar aquela parte sã da Igreja cismática e ‘inimiga do Papa’”.
“Esse engano conta com o apoio da elite globalista, da grande mídia e do lobby LGBT, para o qual muitos clérigos, bispos e cardeais não são estranhos. Além disso, não podemos esquecer que em muitas nações existem leis em vigor que punem criminalmente qualquer pessoa que considere a sodomia repreensível e pecaminosa ou que não aprova a legitimação do ‘matrimônio’ homossexual – mesmo que o faça com base em seu Credo”, acrescentou.