Os acenos do papa Francisco à militância LGBT vêm se tornando mais frequentes, ainda que por vezes o líder católico precise enfatizar a postura oficial de sua denominação diante da homossexualidade.
Na última semana, Francisco se reuniu com pais de pessoas LGBT e afirmou que ama seus filhos “assim como são”. O encontro ocorreu na última quarta-feira, 16 de setembro, com participação de aproximadamente 40 pais ligados à Associação Tenda di Giornata, uma entidade italiana que incentiva as comunidades cristãs a acolherem homossexuais e trans.
“O papa ama seus filhos assim como são, porque são filhos de Deus”, acrescentou Francisco, segundo relato do jornal católico italiano Avvenire. O pontífice recebeu um livreto de presente, com relatos de experiências problemáticas que as famílias representadas pela entidade enfrentaram em paróquias.
Os participantes da reunião também entregaram a Francisco uma camisa multicolorida com a inscrição “Nell’amore non c’è timore” (“Não existe medo no amor”).
“Queremos criar uma ponte com a Igreja para que ela possa mudar o olhar para nossos filhos, acolhendo-os plenamente ao invés de exclui-los”, disse a vice-presidente da associação, Mara Grassi.
As iniciativas da militância LGBT em se aproximar da Igreja Católica são fruto de posturas politicamente corretas adotadas pelo papa, que rotineiramente faz declarações consideradas amigáveis e amplamente repercutidas pela grande mídia.
No entanto, apesar da sinalização de acolhimento às pessoas LGBT, o papa reiterou a doutrina cristã de reprovação à homossexualidade. Em 2016, assinou um decreto reiterando o repúdio ao “que se conhece como cultura gay”, e frisou que não pode permitir a presença de homossexuais entre seus sacerdotes.
“A Igreja, respeitando as pessoas envolvidas, não pode admitir no seminário e nem nas ordens sagradas os que praticam a homossexualidade, apresentem tendências homossexuais profundamente enraizadas ou apoiem o que se conhece como cultura gay”, destacava o documento.
Firmeza
Enquanto isso, o antecessor de Francisco adota postura menos política sobre o tema. Aos 93 anos, o papa emérito Bento XVI comparou a união de pessoas do mesmo sexo – popularmente tratada como “casamento gay” – ao anticristo. Seu posicionamento foi repercutido no livro biográfico intitulado Bento XVI – Uma Vida, que reúne várias entrevistas dadas pelo pontífice ao autor.
O papa, que exerceu o pontificado entre 2005 e 2013, reiterou sua oposição ao “casamento gay” e associou a ideologia que cerca esse tipo de união ao espírito do anticristo: “Há um século seria considerado absurdo falar sobre casamento homossexual. Hoje, quem se opõe a ele é excomungado da sociedade. Acontece a mesma coisa com o aborto e a criação de vida humana em laboratório”, lamentou o religioso alemão.
Conhecido por sua tradicional rigidez e objetividade, Bento XVI afirmou que “a verdadeira ameaça para a Igreja é a ditadura mundial de ideologias que se pretendem humanistas”, e que encaminham a sociedade para um horizonte de idolatria irreversível: “A sociedade moderna está formulando um credo ao anticristo que supõe a excomunhão da sociedade quando alguém se opõe”.