O pastor Ariovaldo Ramos esteve, há pouco, no centro de uma onda de críticas por sua defesa incondicional do governo Dilma Rousseff (PT), e agora, em uma entrevista, voltou a falar que o processo de impeachment é um golpe e a aprovação de sua abertura na Câmara significa “o mal assumindo o poder”.
Ramos, que até pouco tempo atrás era pastor-adjunto da Igreja Batista da Água Branca (IBAB) e é um dos principais líderes da Teologia da Missão Integral, afirmou que, caso o impeachment seja levado adiante, haverá reação dos militantes de esquerda.
“Não estamos mais na década de 1960 e nem somos alienados. As forças sociais, as organizações democraticamente estão aí. E em nome da democracia, do direito, do trabalho, vão reagir à perda de direitos, ao golpe, a uma elite retrógrada, subdesenvolvida. E isso só Deus sabe onde pode vai parar. Se a elite brasileira acha que esse movimento é simples e acabado, está redondamente enganada. Vai haver reação, vai haver tomada de posição”, prometeu, em entrevista ao site Rede Brasil Atual.
Sobre a menção a Deus feita por parte dos deputados que votaram pela abertura do processo de impeachment, Ramos entendeu que esse é um direito garantido, embora discorde: “A liberdade de todo ser humano para justificar sua ação como desejar, inclusive citando Deus, não está em questão. E sim que os congressistas que professam a fé evangélica – a maioria dos que justificaram o voto citando Deus – votaram baseados em princípios ou preceitos de moral em vez de aterem-se aos preceitos civis”, criticou.
Para Ariovaldo Ramos, “há um sem-número de parlamentares incriminados e acusados de, no mínimo, não terem noção de ética em relação à coisa pública”. O pastor, inclusive, reiterou seu pensamento de que a Operação Lava-Jato comete excessos: “Esse problema se manifesta de maneira angustiante nos poderes constituídos, como na seletização dos julgamentos das operações na Polícia Federal, por exemplo”.
O impeachment contra Dilma, na visão de Ariovaldo Ramos, é a imposição de um pensamento conservador sobre a alegada agenda progressista da esquerda: “A pauta moral prevaleceu sobre a legal. E essa era uma maneira de esses deputados, sobretudo os evangélicos, deixarem claro ao governo que abririam mão do cumprimento à Constituição em nome do respeito a princípios da família, tão comuns na fé cristã, ainda mais numa nação que se confessa majoritariamente cristã. Tanto que a questão das pedaladas só apareceu na voz de uma meia dúzia”.
Ramos afirma que “essa campanha moral vem de longa data”, com a divulgação de ideias conservadoras por parte dos líderes evangélicos: “O governo que não foi hábil para detectar, entender e dar uma resposta. Um equívoco histórico que está cobrando seu preço agora. Todos que votaram pelo impeachment, muitos até com razões estapafúrdias, desrespeitaram a Constituição e o Estado democrático de direito. Essa ênfase moral, explícita nos votos em nome da família é a mesma que aparece na extrema-direita em todo o mundo, não só no Brasil. E pode até influir na escolha do eleitorado evangélico alinhado ao PT, mesmo aquele beneficiado pelos programas sociais. A força do líder religioso não pode ser subestimada. Independentemente da confissão religiosa, o líder está em contato com o fiel. E o governo não”, comentou.
Nesse ponto, o pensamento de Ariovaldo Ramos se aproxima do discurso adotado pelo ex-ministro da Casa Civil, Gilberto Carvalho, quando em 2012, no Fórum Social de Porto Alegre (RS), defendeu que o governo precisaria disputar com as igrejas evangélicas a formação de opinião das classes C, D e E. À época, muitos pastores reagiram à tentativa de interferência, e Carvalho se viu obrigado a recuar.
Por fim, Ariovaldo Ramos diz que o cristianismo define o mal como “tudo aquilo que atenta contra o bem da humanidade, do ser humano como pessoa e a humanidade enquanto comunidade”, e que o atual processo de impeachment se encaixa nisso: “Na minha opinião, essa ação que avança, sem que haja motivo jurídico nem sequer para a denúncia, atenta contra a democracia, contra um projeto de emancipação do pobre, do negro, da mulher, do indígena, do quilombola, de todos que estão à margem da sociedade brasileira”, opinou, deixando subentendido que a única maneira de atender as necessidades dos menos favorecidos é mantendo o governo petista – ou qualquer outro que siga seus ideais -, o que contradiz a alegada defesa que ele faz da democracia.