Um disparo acidental da arma do pastor Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, suscitou um debate sobre a legitimidade de cristãos portarem armas com finalidade de autodefesa. Os textos bíblicos em que o assunto é mencionado são fartos e foram abordados por Yago Martins em um vídeo no canal Dois Dedos de Teologia.
O ex-ministro – que é pastor presbiteriano – estava com sua arma no Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília, quando foi manusear a arma para desmuniciá-la antes do atendimento no balcão da companhia aérea.
Em depoimento à Superintendência da Polícia Federal do Distrito Federal, o ex-ministro afirmou que o disparo ocorreu pois tentou remover o carregador “dentro da própria pasta”, mas devido à quantidade de objetos, o espaço era pequeno e o disparo acidental ocorreu.
Uma funcionária da Gol que estava no guichê ao lado foi atingida por estilhaços, mas sem gravidade, de acordo com informações do portal Uol.
“O projétil atravessou o coldre e a pasta e se espalhou pelo chão”, disse o pastor, afirmando que o incidente foi resultado de seu “cuidado excessivo” para não expor a arma em público.
Cristão x armas
O direito à autodefesa é um tema visto como polêmico pelos cristãos no Brasil, muito por conta da influência ideológica que a teologia da libertação impôs como braço religioso dos movimentos de esquerda (desarmamentistas), como admitido pelo próprio ex-presidente Lula ao falar sobre a origem do Partido dos Trabalhadores.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o direito à autodefesa, incluindo a posse e o porte de armas, são previstos na Constituição, como uma medida que, inclusive, visa a prevenção a governos totalitários, já que um povo armado jamais será refém de um governante.
O pastor e teólogo Yago Martins publicou, há pouco mais de três anos, um vídeo em que aborda todos os principais pontos envolvendo o conceito de armas para autodefesa, e também fala sobre a “esperança escatológica” de um mundo de paz, governado pelo próprio Deus.
“As leis do Antigo Testamento a respeito da autodefesa e da preservação da vida apontam para princípios muito importantes para a gente, princípios esses que são confirmados no Novo Testamento, principalmente pela postura de Jesus”, introduziu.
“Jesus era claramente contra o desarmamento. A gente nem está falando de arma ainda, a gente está falando do direito de defesa. Agora, Jesus fala muito no Novo Testamento de um direito de defesa que é armado. A gente imagina Jesus como alguém totalmente pacifista e tal, um Dalai Lama da vida. Jesus não foi isso. Jesus não era Gandhi, Jesus era Deus, e como Deus, Ele trouxe muitas vezes mensagens e ideias que vão contra aquilo que a gente imagina”, acrescentou Yago Martins.
Bíblia x opinião
Yago Martins também ponderou que as opiniões sobre armas, embora sejam livres, devem respeitar o que dizem os textos bíblicos a respeito do assunto:
“Talvez você seja contra o armamento civil. Jesus não foi! Talvez você fique chocado: ‘ah, mas esse não é o meu Jesus’. Mas é o Jesus da Escritura. Às vezes a gente vai na Bíblia esperando que ela confirme nossas ideias. Mas às vezes a gente tem aqui, como dizia C. S. Lewis, um mestre ou um juiz. Muitas vezes Deus julga nossas ideias e as condena”.
Martins citou algumas passagens bíblicas: “Em João 2:15 a gente tem um Jesus que se arma. Você imagina Jesus armado? […] O azorrague era um tipo de chicote dos mais violentos que existiam naquela época. Foi o chicote que foi usado contra Jesus quando ele estava sendo torturado antes de ser crucificado. […] Era uma arma que tinha poder de desfigurar, de torturar e de, talvez, matar um indivíduo. E Jesus usa isso como uma ameaça contra os cambistas. Não diz no texto que Jesus bateu em alguém com isso”.
O pastor pontuou que “Jesus era Deus, e Ele era perfeito, nunca pecou”, e sendo assim, pelo exemplo do próprio Cristo, um cristão também pode possuir e portar armas: “Se portar uma arma, se fazer uma arma – como Jesus fez – se usar essa arma para ameaçar alguém, em caso de necessidades, sempre for algo pecaminoso e errado, partindo de um cidadão comum, então Jesus estaria pecando, Jesus teria pecado, e Jesus nunca pecou”.
“Isso significa que armar-se e suar essa arma de forma correta não é um ato pecaminoso e não é um ato que ofende ao Senhor. Esse mesmo Jesus que se armou manda que seus discípulos se armem: em Lucas 22, a partir do verso 36”, enfatizou.
Dentro de uma breve contextualização, Martins explica que “Jesus queria que eles levassem uma espada para que eles pudessem se proteger”.
“Jesus condena que Pedro ataque alguém […], mas a espada teria essa função de se defender. As ruas e estradas eram muito perigosas. Eles iam estar numa situação de vulnerabilidade muito intensa como missionários. E Jesus ordena que missionários se armem”, analisou.
“‘Valha, Yago, você acha certo um pastor andar armado?’ Jesus ordena que missionários andassem armados, com o intuito claro que eles pudessem se defender nos contextos de dificuldade que surgiriam”, reiterou.
Assista: