Numa conversa com o ecoteólogo Leonardo Boff, o ex-presidente Lula declarou que a teologia da libertação é parte essencial do contexto de fundação do Partido dos Trabalhadores.
Boff, que desde a década de 1980 tem suas teses reprovadas pela Igreja Católica, é parte do grupo defensor da teologia da libertação, uma linha interpretativa adotada por principalmente teólogos católicos sul-americanos que serviu para a politização da mensagem pregada nas paróquias Brasil afora.
Na visão de Lula, sem a teologia da libertação, o trabalho junto à Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que permitiu a fundação do PT não seria possível. Conforme informações do ACI Digital, o diálogo entre os dois repercutiu negativamente entre católicos brasileiros.
Leonardo Boff relembrou que à época em que ainda era sacerdote celebrava missas com a presença de Lula, permitindo em algumas ocasiões que o então sindicalista “fizesse as homilias”. O ecoteólogo deixou o estado clerical na década de 1990, quando passou ao estado laical por decisão própria.
Lula, em alusão a uma afirmação de Boff, que o considera um “líder religioso e político”, disse que “o PT não existiria se não fosse a Teologia da Libertação”.
“O PT não existiria do jeito que ele existe se não fossem as Comunidades Eclesiais de Base. Eu que viajei o Brasil inteiro para construir esse partido, eu sei o valor de um padre progressista”, disse o ex-presidente. “As Comunidades Eclesiais de Base não entraram no PT, as CEBs fundaram as células do PT”, acrescentou.
As Comunidades Eclesiais de Base surgiram por volta do final da década de 1960, numa movimentação de resposta à instauração do Regime Militar. O primeiro passo foi a Conferência Geral do Episcopado Latinamericano em Medellín, em 1968. Seu escopo era uma organização pastoral alternativa às paróquias, sendo assim, livres para influência política do marxismo.
Na live, Lula pontuou que sua relação com Leonardo Boff vem desde a década de 1970, e reiterou a importância dessa ponte de diálogo para a criação do PT: “Foi a relação com você, e com outros ‘companheiros da Igreja’, como padres… foi a relação que tive com dom Claudio Hummes, dom Angélico, que tive com bispos do Acre, de Rondônia, dom Evaristo Arns, dom Luciano Mendes e milhares de movimentos sociais que me fez ser quem eu sou”, admitiu.
“Eu sou na política um pouco filho do movimento sindical, dos movimentos sociais, um pouco filho da Teologia da Libertação”, arrematou o ex-presidente.
O Centro Dom Bosco, que se posiciona num espectro de oposição à teologia da libertação, publicou uma crítica aos dois líderes de esquerda: “Nesta live alguns assuntos perturbadores sobre a influência do Partido dos Trabalhadores na Igreja foram abordados descaradamente. É possível perceber que a influência marxista desde antes da fundação do PT foi arquitetada com o apoio de padres apóstatas”.