Esta semana arqueólogos anunciaram terem descoberto os restos do palácio do rei Herodes ao lado do Museu da Torre de Davi, em Jerusalém. A descoberta pode representar uma grande mudança no caminho percorrido por peregrinos cristãos que viajam a Israel visto que, segundo o relato bíblico, este seria o lugar onde o governador romano Pôncio Pilatos condenou Jesus à morte.
Segundo informações publicadas pelo jornal americano The Washington Post, as ruínas do palácio foram descobertas durante escavações que tinham como objetivo inicial a expansão do Museu da Torre de Davi, planejada há 15 anos. Era de conhecimento dos cientistas que havia uma prisão no local, mas eles não tinham conhecimento do que estava debaixo dela.
As escavações foram atrasadas em muitos anos devido às guerras na região e à falta de verba, mas agora a grande descoberta está sendo exibida para o público em excursões organizadas pelo museu. Amit Re’em, arqueólogo de Jerusalém que liderou a equipe de escavação há mais de uma década, comentou sobre a descoberta afirmando que a prisão “é uma grande parte do quebra-cabeça de Jerusalém e mostra a história da cidade de uma forma muito original e clara”.
A descoberta foi comentada também por Shimon Gibson, professor de arqueologia da Universidade de Carolina do Norte em Charlotte, que afirmou que estudiosos estão quase certos de que o julgamento de Jesus ocorreu no complexo de Herodes.
O episódio é descrito como tendo ocorrido “perto de um portão e em um pavimento de pedra irregular”. Os detalhes coincidem com os achados arqueológicos anteriores perto da prisão.
– Obviamente, não há qualquer inscrição informando o que aconteceu aqui, mas tudo (relatos arqueológicos, históricos e religiosos) recai sobre este lugar e faz sentido – afirma o professor.
Pedro Paulo Abreu Funari, arqueólogo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também falou sobre a importância da descoberta, e de como achados arqueológicos como este servem para comparações com os relatos bíblicos.
– Quando se trata de lugares onde Jesus teria estado há locais que são evidentemente imaginativos porque não há dados concretos sobre eles. Outra coisa são lugares de Jerusalém onde ele esteve ou pode de fato ter estado, como é o caso do palácio de Herodes, sobre o qual há referências em relatos bíblicos. A descoberta é importante para os fieis, que não necessariamente precisam de evidências, mas principalmente para os estudiosos que podem tirar ilações a partir dela. É possível, por exemplo, ver se o local condiz com o relato de que Jesus teria sido apresentado ao povo junto com Barrabás – afirma Funari.
A opinião do professor da Unicamp é compartilhada também por Jeanne Cordeiro, do Laboratório de Arqueologia Brasileira, que explicou que “a arqueologia demanda fontes que podem ou não ser corroboradas pelas descobertas” e que “a Bíblia é uma fonte enquanto relato histórico de uma sociedade, no caso a judaica”.
– A fé não requer constatação, mas a ciência sim. É disso que se trata a arqueologia bíblica – ressaltou Jeane.