No último mês, um grupo ativista gay realizou, através do Twitter, uma mobilização contra a psicóloga cristã Marisa Lobo. Intitulada “Marisa Lobo cure meu heterossexualismo” a campanha criticava a postura da psicóloga a respeito da homossexualidade. Usando a hashtag #curemeuheterossexualismo, os ativistas e simpatizantes do movimento homossexual ironizavam as opiniões defendidas pela psicóloga.
Em entrevista ao site A Capa o criador da campanha, o estudante Serviço Social na Universidade de Brasília (UNB), Luth Laporta, afirmou que a campanha surgiu de um cartaz feito para a III Marcha Nacional Contra a Homofobia quando militantes da Cia. Revolucionária Triângulo Rosa (CRTR) tiveram a ideia de usar a frase “Marisa Lobo, cure minha heterossexualidade”, como forma de protestar no evento.
Laporta, que é ativista da CRTR e divulgou a campanha através de vídeos nos quais ironiza a psicóloga, explicou que o uso da palavra “heterossexualismo” foi proposital pois, segundo ele, o sufixo “ismo” remete a doença e é frequentemente usado para mencionar os homossexuais. Entre as publicações com a hashtag, havia desde ameaças até zombarias contra o trabalho de Marisa Lobo.
“Houve mudança no sufixo de ‘dade’, utilizado pelas minhas colegas da CRTR, para ‘ismo’, de forma a tratar com ironia a heterossexualidade como se fosse doença, uma vez que o sufixo remete a doença e é sempre usado por fundamentalistas quando o assunto é homossexualidade”, afirmou o jovem.
Ele afirma ainda que a campanha atingiu os Trending Topics (assuntos mais comentados) em várias regiões do país em 15 minutos e permaneceu ali por mais de uma hora. O ativista explicou a adesão à campanha afirmando: “Vários twittaços muito importantes dessa militância não tiveram êxito por falta de participação. O dessa campanha com certeza obteve sucesso por ser divertido ao mesmo tempo em que era questionador, crítico. Acredito que há carência de senso de humor em quase tudo e a militância não foge à regra”.
Leia a entrevista na íntegra:
De onde surgiu a ideia de fazer a campanha “Marisa Lobo, me cura do meu heterossexualismo”?
O nome oficial da campanha é “Marisa Lobo, cure meu heterossexualismo”, apesar do nome dos vídeos. A ideia nasceu de uma militante da Cia. Revolucionária Triângulo Rosa (CRTR), junto a outras militantes deste coletivo, suas alunas. Elas tiveram a ideia de colocar a frase “Marisa Lobo, cure minha heterossexualidade” num cartaz feito para a III Marcha Nacional Contra a Homofobia. A foto foi divulgada no Facebook e visto por moderadores do grupo “Todos Contra a Homofobia, a Lesbofobia e Transfobia (TCHLT). Assim, idealizamos fazer uma campanha virtual com o nome “Marisa Lobo, cure meu heterossexualismo”.
No primeiro vídeo da campanha você interpreta o começo de uma terapia e, no segundo, o fim. Entre o primeiro e o segundo, qual foi a repercussão da campanha? Muitos adeptos?
O primeiro vídeo teve vários acessos e após assisti-lo algumas pessoas também entraram na brincadeira e fizeram seus próprios vídeos para a campanha. Depois de alguns dias publicado YouTube, nós do TCHLT fizemos uma convocação para um tuitaço com a hashtag #curemeuheterossexualismo, realizada no dia 24/05. Foi um sucesso, atingindo o topo dos Trending Topics em várias regiões do país em apenas 15 minutos e permaneceu ali por mais de uma hora.
Marisa Lobo teve alguma reação ao tuitaço?
A “psicóloga cristã” Marisa Lobo tentou, assim que viu a nossa hashtag nos TT’s, convocar suas seguidoras para um twittaço imediato, utilizando a hashtag #ForçaMarisa. Ela não conseguiu nenhuma posição nos TT’s. Um jornal gospel publicou uma matéria no dia seguinte em apoio à Marisa Lobo .
Uma das principais características da campanha de vocês é o senso de humor crítico. Acredita que falta senso de humor no ativismo atual?
O humor pode se revelar uma arma fatal para argumentos infundados e risíveis, como é o caso dos utilizados por fundamentalistas. A ideia principal da campanha é utilizar dos mesmos argumentos dos fundamentalistas para mostrar que, se algo vale para tratar de uma sexualidade, deve valer para tratar de outras. Assim, se o “homossexualismo” tem cura, o “heterossexualismo” também deve ter.
Utilizar da ironia, do humor em uma campanha de militância sexodiversa/LGBT comprovou ser uma forma de chamar a atenção de militantes e não-militantes e de fazê-las ter vontade de participar. Vários twittaços muito importantes dessa militância não tiveram êxito por falta de participação. O dessa campanha com certeza obteve sucesso por ser divertido ao mesmo tempo em que era questionador, crítico. Acredito que há carência de senso de humor em quase tudo e a militância não foge à regra.
Além do humor, a campanha de vocês toca num tema bem delicado que é a questão do controle sob o corpo e da conversão de uma orientação sexual “anormal” para uma “normal”. Acredita que as pessoas entenderam o recado?
Algumas tiveram dificuldade em entender. Eu tive de explicar para várias delas qual o real objetivo da campanha, mas acredito que isso se deve mesmo ao analfabetismo funcional, um grave problema no Brasil. A maioria das pessoas entendeu, participou do tuitaço e se divertiu assistindo aos vídeos.
Marisa Lobo e outros/as psicólogos/as ligados às correntes religiosas tem defendido publicamente a conversão da orientação sexual, mesmo o Conselho Federal de Psicologia (CFP) já os tenha proibido de fazerem tais “tratamento”. Que análise você faz de tal cenário? O CFP poderia ser mais rígido?
Não acredito que o CFP compactue com a ideia de conversão de orientações sexuais. Ele possui uma diretriz bem clara que orienta as psicólogas a tratarem de casos de egodistonia de sexualidade – quando a pessoa tem dificuldades em aceitar a própria orientação sexual – de forma a ajudar as pacientes a serem felizes como são, sem com isso pretender mudar sua sexualidade.
Além disso, uma psicóloga não pode julgar a sexualidade de sua paciente como “certa” ou “errada”, “boa” ou “má”, independente do que certa religião pregue. O Conselho Regional de Psicologia do Paraná já determinou que Marisa Lobo retirasse de seus meios de comunicação virtuais as alusões à sua religião. Ela, por sua vez, se refere a essa determinação como “perseguição religiosa” e não seguiu a determinação. Quanto às várias psicólogas que dizem seguir uma nova abordagem da Psicologia, denominada Psicologia Cristã, acredito que o CFP deva cumprir seu papel fiscalizador com maior eficácia.
Fonte: Gospel+