Desde que a Igreja Católica resolveu publicar um documento autorizando que os seus sacerdotes possam liberar bênçãos para uniões LGBT, o clima entre os clérigos e membros da instituição ficou abalado, gerando forte reação até mesmo na cúpula do Vaticano.
Diante disso, autoridades da igreja, através do Vaticano, buscaram conter o estrago provocado pela iniciativa do Papa Francisco, que chegou a ser duramente criticado por sua postura cada vez mais alinhada ao liberalismo teológico, o que resultou no despejo do cardeal americano Raymond Leo Burke, crítico do pontífice.
Uma das primeiras reações negativas logo após a publicação do Vaticano em 18 de dezembro foi da Conferência Episcopal de Moçambique, que anunciou que não seguirá a recomendação do Papa. Depois, bispos de Angola, Quênia, Nigéria, São Tomé e Príncipe, Uganda e Zimbábue também manifestaram rejeição à orientação papal.
Novo pronunciamento
Para tentar conter a divisão doutrinária na Igreja Católica, o Vaticano emitiu um novo documento no dia 4 desse mês, com o objetivo de esclarecer o posicionamento anterior.
Liderada pelo cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, a Congregação para a Doutrina da Fé alega que a “bênção pastoral” autorizada pelo Papa para as uniões LGBT não são a mesma coisa que a bênção litúrgica, segundo o Estadão.
No caso da bênção pastora, o sacerdote católico faz a seguinte declaração: “Senhor, olhai para estes teus dois filhos, concedei-lhes saúde, trabalho, paz, ajuda mútua. Livrai-os de tudo o que contradiz o teu Evangelho e concedei-lhes que vivam segundo a tua vontade. Amém”.
Na prática, o Vaticano tenta afastar a ideia de que a bênção autorizada pelo Papa seria um reconhecimento da união LGBT, que à luz da Bíblia sagrada é pecado, uma vez que as Escrituras só reconhecem a união sexual entre homem e mulher, tendo em vista que só pessoas de sexos diferentes podem perpetuar a espécie humana.
Desse modo, o Vaticano afirma que o documento publicado em dezembro contém apenas a proposta de breves e simples bênçãos pastorais (não litúrgicas ou ritualizadas) a pessoas que se encontram em uniões “irregulares”, ou seja, “bênçãos sem forma litúrgica que não aprovam nem justificam a situação em que estas pessoas se encontram”.
Bênção duvidosa
Apesar dos esforços do Vaticano para negar que esteja reconhecendo a legitimidade doutrinária do “casamento gay”, a natureza da bênção, em si, tem sido questionada por líderes católicos pelo fato de que ela, na prática, pode acabar sendo interpretada dessa forma.
Em uma das manifestações mais recentes, por exemplo, o bispo de Moyobamba (Peru), Rafael Escudero, exortou os sacerdotes de sua diocese que, “dada a falta de clareza do documento”, seguirem “a práxis ininterrupta da Igreja até agora, que é abençoar toda pessoa que pede bênção, e não casais do mesmo sexo ou casais em situação irregular”.