Um manuscrito da Bíblia Sagrada datado do século IV escrito em grego foi apresentado pela Biblioteca Apostólica Vaticana e mostra diferenças significantes em relação a dois evangelhos.
O exemplar, considerado um dos mais importantes e antigos exemplares da Bíblia cristã, não tem trechos de discursos de Jesus presentes em outras versões, o que suscitou a especulação de que tais falas tenham sido inseridas posteriormente. Uma versão digital do manuscrito foi disponibilizada online.
A primeira ausência é verificada no livro de Marcos, quando Jesus ressuscitado teria dito aos discípulos para espalharem a mensagem do Evangelho por todo o mundo.
“E disse-lhes: “Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal nenhum; imporão as mãos sobre os doentes, e estes ficarão curados”. Marcos 16:15-18.
O segundo trecho em que há diferenças substanciais em relação à Bíblia Sagrada como conhecemos está no livro de João, no capítulo 8. No manuscrito em grego não há a reflexão proposta por Jesus aos acusadores: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”. João 8:7.
De acordo com informações do jornalista Reinaldo José Lopes, da Folha de S. Paulo, existem outros trechos do manuscrito que são diferentes ou não existem se comparados com as Bíblias mais atuais.
“Isso levou muitos especialistas a postular que o atual final de Marcos é uma “versão estendida” inserida por um autor que viveu depois do evangelista. E, no Evangelho de João, a famosa cena da adúltera e do “atire a primeira pedra quem não tiver pecado” também não consta desse manuscrito, o que também indicaria que esse trecho não foi escrito por João”, opinou Lopes.
Porém, não há informações concretas sobre o local em que o manuscrito foi escrito, embora existam indícios que apontam para o Egito. Também não existem provas de que o texto no manuscrito é um compilado fiel às demais Bíblias da época em que foi confeccionado, há aproximadamente 1.700 anos.